Título: Indústria tem recuperação lenta em março e abril
Autor: Maia , Samantha
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2009, Brasil, p. A3
Os dados de produção industrial de março e os relatos empresariais relativos a abril indicam um ritmo lento de recuperação da economia brasileira, mas bastante diversificado entre os setores. A lideranças nestes dois meses foi claramente dos segmentos beneficiados pelas políticas anticíclicas (redução de impostos e linhas de crédito) adotadas pelo governo. Depois da recuperação do setor automotivo, iniciada em janeiro, abril marcou a retomada da produção de linha branca e materiais de construção. Este setor, após encerrar o primeiro trimestre com queda de 16% em relação a igual período do ano passado, já espera um abril quase igual ao de 2008.
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a indústria de transformação apenas manteve, em março o patamar de produção de fevereiro, com alta foi de 0,06% na comparação com ajuste sazonal. A alta de 0,7% na indústria geral foi puxada pela produção da Petrobras que fez o segmento extrativo encerrar março com aumento de 2,5% em relação a fevereiro. Em março, os dados também indicam forte disparidade entre os setores. Dos 27 segmentos pesquisados pelo IBGE, só 11 cresceram na comparação com fevereiro.
Essa mesma disparidade se manteve em abril, segundo informações colhidas pelo Valor junto a diferentes setores industriais. Uma diferença é a entrada de novos setores na lista dos "otimistas".
Os fabricantes de materiais de construção sentiram um ritmo de encomendas mais forte do varejo em abril. Para a Abramat, entidade que representa o setor, isso já é reflexo da redução de IPI sobre produtos do setor. A expectativa de que abril tenha sido um mês melhor trouxe de volta a perspectiva de crescimento do faturamento no ano apesar da queda no trimestre.
Segundo Melvyn Fox, presidente da Abramat, uma interrupção das quedas em relação ao ano passado a partir do mês de abril permite projetar um crescimento de 4% para o setor em 2009. O início dos investimentos do programa Minha Casa, Minha Vida no fim do primeiro semestre fortalecem as expectativas de retomada do setor. "Entendemos que o ciclo de quedas foi estancado em abril, com alguma distorção por conta dos feriados", diz.
Fox diz que a redução do IPI para 30 produtos a partir de 1º de abril já pôde ser sentida porque, segundo Fox, o varejo estava com estoques baixos e conseguiu repassar rapidamente a queda do custo para o consumidor final.
O setor de eletrodomésticos também foi beneficiado pela redução do IPI para geladeiras, fogões, máquinas de lavar e tanquinhos a partir de 17 de abril. Segundo Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), as vendas destes itens já foram impulsionadas e devem refletir nos resultados do setor. "Dá para considerar que houve uma retomada em abril, ainda não mensurada, mas também não dá para soltar fogos", diz ele.
O segmento de eletroeletrônicos fechou o primeiro trimestre com queda de 10% no volume das vendas em relação ao início de 2008. O varejo apresenta dados positivos das vendas, e como as encomendas foram fracas, pode-se concluir que os lojistas estavam com estoques altos e foram cautelosos na reposição, avalia Kiçula.
A expectativa do setor se volta para maio, quando se juntam a desoneração e as vendas do Dia das Mães "Acreditamos que a redução do IPI vai continuar a influenciar em maio, e os presentes para as mães vão aumentar as vendas" diz Kiçula. Mesmo com o IPI, segundo ele, a melhor perspectiva para o ano é repetir 2008.
Para a Mabe, empresa detentora das marcas GE, Mabe e Dako, o pior momento foi o último trimestre de 2008. Neste ano, os resultados vêm melhorando mês a mês, segundo o presidente da Mabe no Mercosul, Patricio Mendizabal, com expectativa de recuperação forte para abril e maio. "Depois da queda de vendas em janeiro e estagnação em fevereiro, em março nossas vendas cresceram 6%, e para abril e maio juntos esperamos um crescimento por volta de 15%", diz.
O executivo acredita que a retomada da Mabe está relacionada à redução do IPI em abril e também ao fato da empresa ser nova no mercado. "Temos mais espaço para crescer, pois estamos lançando produtos e preenchendo espaços onde não estávamos", diz.
Na Zona Franca de Manaus, embora tenha havido melhora no ritmo da produção industrial, os dados de arrecadação de impostos deixam dúvidas sobre a recuperação definitiva da atividade econômica, na avaliação do presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Maurício Loureiro. Ele observa que a arrecadação no Amazonas de tributos recolhidos pelas indústria apresentou queda de aproximadamente 12% no quadrimestre. No primeiro bimestre, a queda foi de 10%, segundo dados do Confaz. "Acreditamos que a economia como um todo somente voltará a dar sinal de recuperação a partir do segundo semestre. Ainda não temos como dizer que saímos da crise", afirma.
De acordo com Loureiro, dados preliminares sobre a atividade industrial de abril indicam melhora na produção em relação a março, principalmente nos setores de eletroeletrônicos, bebidas, produtos de informática e celulares. O Cieam ainda não fechou as estatísticas do mês, mas a estimativa preliminar é que o faturamento das indústrias tenha ficado 15% abaixo do verificado no mesmo mês de 2008 e pouco acima do de março.
De acordo com o presidente do Cieam, houve melhora nas encomendas para maio, mas o período é bastante influenciado pelo Dias das Mães, que eleva sazonalmente a demanda por eletrodomésticos e produtos eletroeletrônicos. "Acho prematuro considerar que haja uma recuperação definitiva da indústria, excluindo esse fator sazonal", avalia Loureiro. De acordo com ele, as exportações ainda continuam tímidas e sem sinais de melhora. O nível de estoques das indústrias da Zona Franca, informa, ainda estão acima dos níveis normais.
Para o setor automotivo, o efeito do IPI reduzido foi mais favorável em março que em abril. Em março, pelos dados do IBGE, o setor cresceu 6,97% em relação a fevereiro, mas a "luz amarela" continua acesa, na avaliação do gerente-geral comercial da Honda Automóveis, Alberto Pescumo. Em abril, a empresa registrou queda de 8% nas vendas em comparação com março, enquanto a indústria apresentou queda de 13,89% em veículos leves, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Em comparação com abril de 2008, a empresa teve queda de 3%, ante retração de 4,86% do mercado.
A diferença entre o desempenho de abril e de março, diz Pescumo, foi influenciado não apenas pelo número de dias úteis, mas também pelo efeito da prorrogação do desconto do IPI. "Em março, as vendas tiveram um salto porque não se sabia se o governo iria prorrogar a redução do IPI. Em abril, o mercado se normalizou. Talvez em junho haja um novo pico com o fim do desconto tributário", avalia.
Na avaliação do executivo, ainda é cedo para afirmar que a indústria automotiva está em recuperação. "O setor conta com uma ajuda muito grande que é o IPI reduzido e ainda não se sabe o que acontecerá a partir de julho", afirma
Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apesar da forte queda da produção industrial no primeiro trimestre, apurada pelo IBGE, a economia já voltou a crescer. O movimento da indústria, nos três primeiros meses deste ano foi, na avaliação dele, parecido com o que ocorreu no último trimestre do ano passado, mas disse que o governo já esperava por isso. Na visão de Mantega, a recuperação começou a partir de março e as informações do IBGE "olham para o passado". "Voltamos a aquecer e a acelerar. Já estamos em crescimento. A situação está melhorando nitidamente", comentou. (Colaborou Arnaldo Galvão, de Brasília)