Título: Queda em bens de capital chega a 20,8% sobre 2008
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2009, Brasil, p. A3

A produção de bens de capital continua a registrar as maiores quedas dentro da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE. Na comparação com o primeiro trimestre de 2008, ela caiu 20,8%, resultado que interrompeu uma sequência de 22 trimestres consecutivos de alta, nesta base de comparação. A produção de bens de capital registrou retração de 6,3% em relação a fevereiro, feito o ajuste sazonal, sendo o único setor a ter queda nesta comparação. "O comportamento de bens de capital faz sentido, porque as aquisições de máquinas e equipamentos dependem de um cenário mais definido", avaliou o coordenador de indústria do IBGE, Silvio Sales.

No conjunto, a produção industrial apresentou recuperação na margem (0,7% para a indústria geral) pelo terceiro mês consecutivo. Para economistas, o dado é positivo, mas não estão descartados riscos de quedas entre abril e junho. As equipes econômicas do Credit Suisse, Santander, MB Associados, Rosenberg e Tendências Consultoria Integrada concordam que o processo de recuperação da indústria seguirá bastante lento e não há perspectiva de melhora nas projeções para o ano - as estimativas ainda são de queda entre 4% e 5%.

Para o presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, o setor de bens de capital voltou aos níveis de janeiro de 2007, e por isso o cenário continua preocupante. Em março, disse, os bens de capital para fins industriais (sob encomenda) ainda tinham uma carteira forte de pedidos que ajudou a impedir uma queda maior. Embora tenham registrado recuperação, observou, as demais indústrias ainda seguem com capacidade ociosa expressiva, o que significa que os planos de investimento para expansão da capacidade demorarão para sair do papel. "Há uma redução das incertezas, mas a retomada será lenta, com crescimento só em 2010."

A economista da Tendências Consultoria Integrada Marcela Prada considera a demora na retomada do ciclo de investimentos no Brasil como um dos fatores para um resultado ainda fraco da indústria em abril. Cálculo preliminar da consultoria aponta para aumento de 1% a 1,5% na produção em abril comparada a março, com ajuste. "A melhora do nível de estoques das indústrias e os dados ainda positivos de renda e consumo devem garantir a melhora no resultado", afirmou. Restam dúvidas sobre quanto tempo as categorias de bens de capital e de bens intermediários (esses influenciados pela demanda externa) levam para retomar o crescimento.

Levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que 15,7% das empresas afirmavam ter estoques excessivos em abril; em março, o índice era de 17,9%. Já o percentual de empresas com estoques insuficientes ficou em 4,1%, ante 1,8% em março. Para o economista Aloísio Campelo, da FGV, a recuperação dos estoques indica uma tendência positiva. "Mas as expectativas de demanda futura continuam baixas", afirmou. Segundo ele, além do setor de máquinas e equipamentos, apontaram estoques altos o setor de alimentos, que sofre o efeito da desaceleração da renda no mundo.

Para a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, o ajuste nos estoques em curso afetou o desempenho da produção, mas mesmo o ajuste total dos estoques nos próximos meses não impedirá que a indústria encerre o ano com queda (projetada pela consultoria em 4%).

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, prevê queda na produção em abril, com queda nos investimentos e nas vendas de automóveis e um resultado ainda fraco da construção civil. "Alimentos, bebidas e farmacêuticos, que têm demanda inelástica, ajudam a sustentar os resultados da indústria. Mas o cenário de estagnação se mantém", afirmou. O economista do grupo Santander Brasil, Cristiano Souza, também prevê queda em abril e recuperação lenta ao longo do ano. Ele citou o Índice Gerentes de Compras (PMI) Santander, que apontou melhora (44,8 pontos em abril ante 42,2 em março), mas ainda abaixo dos 50 pontos, o que indica queda. (*Do Valor Online; colaborou Samantha Maia, de São Paulo)