Título: Aliança reabre rixa entre Genro e Dirceu
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2009, Política, p. A6

A decisão do PT gaúcho de definir o candidato ao governo do Rio Grande do Sul já em julho, antes do congresso nacional do partido que, em fevereiro do ano que vem, vai oficializar a política de alianças em torno da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República, colocou novamente em confronto dois velhos adversários petistas: o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que já haviam medido forças durante o escândalo do mensalão, em 2005.

Agora a briga envolve uma eventual aliança com o PMDB no Estado, algo impensável para a maior parte dos petistas gaúchos devido à rivalidade local histórica entre os dois partidos. A polêmica começou quando o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, da corrente Construindo um Novo Brasil, a mesma de Dirceu, criticou o calendário estabelecido pelo diretório estadual. Segundo o dirigente, a decisão do partido no Rio Grande do Sul é informal e a definição de nomes deverá se subordinar à estratégia nacional de alianças, que é "prioridade" para o PT.

A declaração, dada ao jornal gaúcho "Zero Hora" na semana passada, foi entendida como um recado para os petistas gaúchos apoiarem um candidato do PMDB no Estado em troca do apoio dos pemedebistas à candidatura de Dilma ao Planalto. Genro, um dos três pré-candidatos do PT ao governo gaúcho, logo reagiu e disse em entrevista ao mesmo jornal que a manifestação de Berzoini foi "infeliz" porque desconsiderava a polarização local com o PMDB e "o fato de termos um partido programático, politizado e ético".

Genro chegou a exigir um pedido de desculpas públicas de Berzoini, mas ontem foi a vez de Dirceu entrar na briga em defesa do presidente nacional da sigla. Em sua página na internet, ele negou participar de qualquer "manobra" da cúpula nacional para interferir na decisão do diretório gaúcho e disse que o ministro da Justiça tratou as divergências internas "de forma desrespeitosa", mas deixou bem clara sua posição.

"Defendo, sim, o diálogo com o PMDB, com os outros aliados, e a abertura para alianças no Estado, sem pré-condições e sem ilusões. Se dialogamos com o PTB e o PDT, com o PP, inclusive, e fazemos alianças nos municípios, por que não dialogar com o PMDB, nosso principal aliado em nível nacional?", escreveu. Segundo ele, todos os Estados, "inclusive o Rio Grande do Sul", deverão aguardar a acatar a "tática" eleitoral que será definida pelo diretório nacional.

Em 2005, Genro assumiu interinamente a presidência nacional do PT e, para disputar a eleição para permanecer no cargo, exigiu a saída de Dirceu, da chapa do então Campo Majoritário (hoje Construindo um Novo Brasil), devido ao envolvimento dele com a crise do mensalão. O ex-ministro, que havia deixado a Casa Civil em junho para retornar à Câmara dos Deputados (onde foi cassado em dezembro em função do escândalo) negou-se a atender e ganhou a queda-de-braço contra Genro, que desistiu da disputa.

Mas agora Genro não está sozinho. O próprio deputado estadual Adão Villaverde, pré-candidato pela mesma corrente de Berzoini e Dirceu, afirmou ontem que "é muito difícil" uma coalizão com o PMDB no Estado. "O PMDB participa do núcleo do governo tucano de Yeda Crusius", afirmou o parlamentar. "Tudo indica que aqui a saída será ter dois palanques para a ministra Dilma".

O pré-candidato da corrente Articulação de Esquerda, Ary Vanazzi, disse que o PT "não pode abrir mão" da candidatura própria ao governo do Estado, até para reacender a militância e fortalecer a ministra Dilma na disputa pela Presidência. "O PMDB daqui nunca foi aliado do presidente Lula", afirmou. De acordo com ele, é "irreal" se pensar em qualquer tipo de apoio do PT ao PMDB no Rio Grande do Sul.

Genro não quis comentar o assunto ontem. Um dos articuladores da pré-candidatura do ministro da Justiça, o ex-prefeito de Bagé, Luis Fernando Mainardi, porém, disse que o PT gaúcho vive uma situação "surreal", com seu principal nome para 2010, que lidera as pesquisas de intenção de voto, instado pelo presidente nacional do partido a abrir mão da disputa em favor do PMDB. "Os dois partidos sempre estiveram em polos opostos da política no Estado", comentou.

Para Mainardi, que não vê problemas na existência de dois palanques para Dilma no Estado em 2010, só quem está "absolutamente" alheio ao contexto local pode imaginar uma aliança entre o PT e o PMDB no Rio Grande do Sul. "Não existe nenhuma possibilidade de o PT apoiar o PMDB aqui", reforçou o secretário geral do partido, Carlos Pestana, da corrente Democracia Socialista, que tem cerca de 24% das cadeiras no diretório estadual e já declarou apoio a Genro. Segundo ele, as tendências Rumo Socialista (17% do diretório), PT Amplo (10%) e Esquerda Democrática (8%) também apoiam o ministro da Justiça.