Título: Quanto vale a nova economia
Autor: Dezem, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2009, Eu & Investimento, p. D1

Apesar de a velha economia ter voltado há algum tempo a dominar o ranking das ações mais valorizadas no mundo, as empresas de tecnologia são mais bem avaliadas por aplicar mais conhecimento, segundo um estudo da Universidade de São Paulo.

Ao acompanhar 607 empresas americanas nos últimos 12 anos, Márcio Marcelo Belli, professor de finanças e doutor em contabilidade pela USP, concluiu que só o fato de a companhia ser de tecnologia já é suficiente para ela ter maior valor do que as dos demais setores. "Nessa pesquisa gerei uma evidência mais robusta de que as empresas de tecnologia têm mais valor", afirma.

Para tanto, Belli separou as empresas de sua amostra em dois grupos: as de tecnologia, composto por 233 companhias e as da "velha economia", com 374. O especialista criou ainda um novo conceito para selecionar as empresas que, para ele, são de tecnologia: todas devem utilizar intensivamente o conhecimento em seus processos produtivos.

Essa nova ideia de "nova economia" abrange, desta forma, não apenas companhias como as do setor de computadores, de equipamentos de comunicação e softwares, mas também empresas de pesquisa científica. Por outro lado, exclui as empresas de comércio eletrônico ou os portais de internet. Já as companhias da velha economia, em sua classificação, continuam sendo as tradicionais, como as da indústria de extração de minerais, de petróleo, de artigos de limpeza, de automóveis, entre outras.

Para comparar os dois grupos, Belli utilizou o índice que calcula o ágio que o mercado paga pelas ações das empresas em relação ao seu valor contábil - o valor desse "prêmio" inclui as expectativas dos ganhos e também pode ser considerado uma medida simplificada do intangível das empresas.

Quando se obtém uma fração maior que um ao se dividir o valor de mercado pelo valor patrimonial significa que o mercado avalia a empresa acima do seu valor contábil registrado no balanço, mostrando que os investidores veem perspectivas de ganhos futuros para essas empresas, o que acaba se refletindo nas cotações de suas ações.

Ao observar esse índice, o professor calculou a média de cada empresa ao longo do tempo pesquisado e percebeu que, grosso modo, as empresas da nova economia têm um valor quase 20% maior do que as demais, no período de análise. "Parti para a análise econométrica para obter uma comprovação mais contundente desse fato. E, de fato, os cálculos estavam certos", afirma Belli.

Assim, munido da hipótese de que o fato de uma empresa ser considerada de tecnologia afeta positivamente o seu valor de mercado, e de uma análise econométrica, que envolve a construção de uma equação que demonstre matematicamente o relacionamento entre as características tecnológicas e as variações no valor das empresas, ele chegou à conclusão que esperava.

A razão para a valorização dessas companhias acima das outras é a questão que fica para ser resolvida. "Os motivos que levam as empresas de tecnologia a apresentar valores maiores que as empresas tradicionais não foram foco da investigação, todavia, a razão, segundo minha análise, é de que o mercado de capitais entende que as empresas de tecnologia prometem maiores rendimentos futuros, talvez porque o próprio mercado tenha um cenário mais promissor para os produtos de tecnologia do que para as demais", afirma o pesquisador. E por que a alta credibilidade no crescimento da demanda por esses produtos? "Por causa do alto nível de conhecimento que elas empregam em seus processos produtivos", afirma Belli.

O conhecimento é o que tem de mais valioso na sociedade, afirma o professor, pois faz gerar mais riqueza. "Quando digo que as empresas de tecnologia valem mais, me reporto ao valor do conhecimento. Talvez o produto mais valioso que o homem conseguiu produzir ao longo de toda a história seja mesmo o conhecimento", diz.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), Antônio Carlos Rego Gil, diz que isso é tão verdade que coloca o desenvolvimento econômico dos países na dependência da criação de tecnologias. "O professor viu na teoria o que eu vejo na prática. Todo mundo sabe que o uso de tecnologia contribui para o crescimento sustentado dos países", afirma.

O fato de a questão filosófica do valor do conhecimento ter fortes efeitos na economia real é corroborado pelo chefe do Departamento de Economia da ESPM, José Francisco Moraes, que afirma que o que mais gera riqueza nem é a tecnologia em si, mas sim, sua capacidade multiplicadora, que faz com que os ganhos gerados se espalhem pela economia.

"Os processos produtivos que utilizam e criam mais tecnologia agregam mais valor, já que envolvem uma cadeia produtiva mais extensa, necessitam de mais empregos, de mais escolas para educar estes empregados mais sofisticados e assim por diante, o que faz alimentar a economia do país", explica o especialista da ESPM.

A tendência é que, segundo Belli, a valorização das empresas de tecnologia se intensifique. "No futuro não dá mais para imaginar a competição internacional sem tecnologia. A perspectiva é imensa", prevê.