Título: Venezuela sofre pior queda de exportação na região
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Fonte: Valor Econômico, 11/05/2009, Internacional, p. A11

A Venezuela deve ter sido o país da América do Sul mais afetado este ano pela queda das exportações em decorrência da crise global. Outros países da região que dependem igualmente de um único produto, como Equador e Chile, também sofreram redução importante nas vendas externas.

Apesar de a Venezuela ainda não ter divulgado estatísticas comerciais relativas a este ano, algo bastante incomum, dados sugerem que as exportações caíram, em valor, mais de 50% no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2008.

O petróleo responde por cerca de 90% das exportações venezuelanas. O preço médio do barril, tendo como referência o WTI (negociado nos EUA), caiu de US$ 97,82 no primeiro trimestre de 2008, para US$ 43,31, no primeiro trimestre deste ano. Isso significa uma queda de 56%. O petróleo venezuelano, de pior qualidade, tem preço menor, mas que costuma variar de acordo com o WTI.

Assim, apenas o preço menos do petróleo deve ter causado uma redução de cerca de 50% no valor das exportações da Venezuela.

Mas, além da queda do valor, acredita-se que a produção de petróleo do país tenha caído neste ano, devido à retirada de equipamentos por empresas prestadoras de serviço, o que levou à estatização de todo o setor na última sexta-feira (leia texto nesta página). A agência de notícias Bloomberg estima, sem citar fontes, que a produção pode ter caído até 8,4% em abril, em relação ao mesmo mês de 2008. O país não vem divulgando dados oficiais de exportações de petróleo.

Ou seja, além de receber menos pelo petróleo que exporta, a Venezuela pode estar exportando menos, o que implicaria que a queda nas exportações seria ainda maior.

No Equador, onde o petróleo responde por 50% do total das exportações, as vendas externas caíram 37% neste primeiro trimestre. No Chile, onde o cobre responde igualmente por cerca de 50% da receita das exportações, a queda das vendas externas foi de 43%.

Essas foram as maiores reduções de exportações registradas entre as principais economias da região no primeiro trimestre deste ano, e denotam o impacto de predominância de um único produto. Países com pauta de exportação mais variada, como Brasil e Argentina, sofreram quedas menores.

Em quase todos os países da região, a desvalorização das moedas locais reduziu a demanda por importados, o que fez com que as importações também tivessem forte queda. Isso permitiu que países como o Brasil, Argentina e Chile mantivessem superávit comercial, enquanto Colômbia e Equador passaram a ter déficit.

O caso do Equador é particularmente difícil. Como o país está dolarizado, não pode desvalorizar a moeda. Isso retirou competitividade de outros de produtos de exportação, como flores, camarões e bananas, e fez com que a demanda interna não caísse como nos países vizinhos. As importações caíram apenas 7%, o que gerou um enorme déficit comercial, que ameaça levar o país a uma crise de balanço de pagamentos.

No Chile, a queda acentuada nas exportações foram acompanhadas por por uma queda significativa das importações, de 30%.

Além da redução da demanda por importados devido à desvalorização do peso, a redução das importações se deveu ainda à queda nos gastos com a compra de combustíveis, graças à diminuição do preço do petróleo.

As exportações do Peru também tiveram forte retração. Entre janeiro e fevereiro deste ano e janeiro e fevereiro do ano passado, a queda foi de 32%. Assim como o Chile, o Peru é exportador de cobre e sentiu o impacto da queda nos preços. Mas esse impacto foi suavizado pela alta na cotação do ouro. O Peru é o sexto maior produtor de ouro do mundo.

Dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) mostram que, no primeiro bimestre, as exportações da América Latina tiveram em média uma queda de 31%. As vendas da região para os EUA foram as que mais recuaram: 34%. As importações tiveram em média um recuo de 27%. As compras de itens de países latino-americanos foram que mais caíram: 30%. As compras de itens feitos na China foram as menos afetadas: queda de 11%.

Segundo o economista do Goldman Sachs para mercados emergentes da América Latina, Alberto Ramos, há um certo padrão na relação entre crescimento da economia mundial e fluxo comercial. Quando o mundo cresce 1%, o comércio tende a se expandir ao ritmo de 3%. A relação é a mesma quando se trata de retração econômica, como ocorre agora.

De modo geral, diz ele, as economias mais afetadas em períodos de recessão global, são aquelas mais abertas e que dependem substancialmente das exportações. Na América do Sul, o Chile, é um exemplo típico. "É um dos países mais atingidos por ser uma economia pequena e aberta. Mas é, ao mesmo tempo, o que tem mais capacidade de lidar com essa situação." O país tem uma dívida pública pequena (5% em relação ao PIB; no Brasil, a dívida está na casa dos 60%). E acumulou um colchão de reservas que o permite lançar mão de políticas de estímulo que custarão de ao país um déficit fiscal este ano de 4%, diz Ramos. No ano passado, o Chile registrou superávit de 5,2%.

Para Osvaldo Rosales, diretor da Divisão de Comércio Internacional da Cepal, apesar do impacto provocado pela crise, a os países latino-americanos estão numa situação melhor que os da Ásia, EUA e Europa. "O comércio de Hong Kong, Coreia, Singapura, por exemplo, está sendo mais afetado devido ao alto grau de integração com EUA e Japão", disse ele.