Título: Copom desarma a expectativa de juros altos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2009, Opinião, p. A12

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) conseguiu desarmar, por meio da ata de sua última reunião, a expectativa, corrente no mercado há algumas semanas, de que a taxa básica de juros (Selic) voltaria a subir já no início do próximo ano. Divulgada na quinta-feira passada, a ata deixou claro que a economia está operando bem abaixo do seu potencial, que a inflação deste e do próximo ano não representa uma ameaça e que, portanto, há espaço para novos cortes na taxa de juros.

O impacto nos mercados foi imediato. A curva de juros futuros, que vinha oscilando para cima, começou a declinar na quinta-feira. No dia 20 de abril, por exemplo, os contratos com vencimento em janeiro de 2010 foram fechados com taxa de juros de 9,91% ao ano. Na última quinta-feira, dia 7, quando foi divulgada a ata do Copom, as operações com mesmo vencimento já foram contratadas com juros mais baixos - 9,56% ao ano. Na sexta, dia 8, estavam em 9,49% ao ano.

O comportamento anterior das apostas do mercado futuro refletia a crença de que, como já começam a surgir sinais de recuperação, a economia voltaria a crescer na segunda metade do ano, obrigando o Banco Central (BC) a elevar a taxa Selic novamente em algum momento de 2010. O Copom registrou essa desconfiança, afirmando, com outras palavras, que não concordava com essa interpretação. "O comitê entende que a melhora do cenário prospectivo de inflação para 2009 e em 2010 não foi, até o momento, incorporada na estrutura a termo das taxas de juros", diz o texto da ata.

O fato é que há espaço para o Copom manter a trajetória de queda da taxa Selic, que agora está em 10,25% ao ano. A economia brasileira está crescendo muito abaixo do seu potencial, indicando que existe território para a recuperação sem a ameaça de uma explosão inflacionária. No mercado, a expectativa dos analistas é que a taxa de juros caia para 9,25% até o fim do ano e que, ao longo de 2010, sofra uma ligeira alta, de 0,25 ponto percentual.

Nos últimos anos, especialmente de 2006 para cá, o Brasil aumentou a capacidade de crescimento econômico sem incorrer em risco inflacionário. Nesse período, a taxa de investimento da economia, medida pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), cresceu bem à frente da velocidade de expansão do Produto Interno Bruto (PIB). O estoque de investimento registrou salto de quase cinco pontos percentuais, chegando a 20,42% do PIB no terceiro trimestre de 2008, o maior em 15 anos.

Investimentos em máquinas e equipamentos, principalmente em itens importados, modernizaram o parque fabril e ampliaram a capacidade produtiva do país. Isto ajudou a atender parte da demanda crescente do mercado consumidor - uma boa fatia ainda é atendida pelas importações -, facilitando o controle da inflação. Estimava-se que em 2002, por exemplo, o Brasil poderia crescer entre 1,5% e 2% ao ano sem que a inflação subisse acima da meta fixada pelo governo. Em setembro de 2008, o cenário era bem diferente - o PIB, que naquele trimestre cresceu 6,8%, podia avançar cerca de 5% sem provocar alta no custo de vida.

A crise financeira internacional, que se tornou aguda após a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro, interrompeu o ciclo de investimentos que a economia brasileira vinha experimentando. Este fato concorrerá para diminuir neste e no próximo ano o potencial de crescimento. Ao mesmo tempo, muitos dos pesados investimentos realizados no triênio recente estão começando a maturar. É possível, portanto, que, na saída da crise atual, o potencial de crescimento do PIB esteja abaixo dos exuberantes 6,8% do terceiro trimestre de 2008, mas bem acima das estimativas de expansão para este ano - no mercado, a projeção média, medida pelo boletim Focus, é de crescimento negativo de 0,30%.

Ao melhorar as expectativas na última ata, o Copom aperfeiçoou também a sua comunicação com o mercado, que captou bem a mensagem. "A ata do Copom diz que o grau de ociosidade da economia é tão alto que, mesmo que tenha uma recuperação da economia, não vai ser preenchido tão rapidamente", disse ao Valor o diretor de investimentos da Porto Seguro, Sérgio Goldenstein.