Título: GM já lucra menos na América Latina
Autor: Olmos,Marli
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2009, Empresas, p. B6

A filial brasileira da General Motors já não é mais a mesma operação lucrativa do ano passado. O lucro operacional da região que inclui o Brasil despencou de US$ 500 milhões no primeiro trimestre de 2008 para US$ 16 milhões no mesmo período deste ano. Apesar dos ganhos minguados, essa foi a única região do mundo em que o resultado operacional da companhia foi positivo. No balanço geral, a GM anunciou ontem o prejuízo líquido de US$ 6 bilhões, o que coloca a montadora americana mais próxima da concordata.

A perda de US$ 484 milhões de um mesmo trimestre para outro na região que inclui o Brasil deveu-se em parte, segundo relatório da companhia para os acionistas, a uma queda de 24% na produção. Isso provocou a perda de US$ 1,4 bilhão na receita, que saiu de US$ 4,8 bilhões nos primeiro três meses de 2008 para US$ 3,4 bilhões. A empresa cita ainda o câmbio desfavorável na região, "relacionado principalmente à depreciação do real", e também a "encargos relacionados à reestruturação em diversos países".

Além do Brasil, a região inclui toda a América do Sul, África do Sul e Oriente Médio. As operações brasileiras representam aproximadamente a metade. Mas a GM não perdeu apenas dinheiro nessa região, reflexo não só da sua própria crise como dos problemas globais. A montadora também perdeu participação de mercado. No bloco que abrange a América Latina a fatia de mercado recuou de 17,6% no começo do ano passado para 16,9%, nos primeiros três meses de 2009.

Quando mostra os números por região, o balanço financeiro divulgado pela companhia fica restrito ao resultado operacional. Não foi divulgado o resultado final líquido. Como a perda no resultado operacional foi acentuada, somente algum ganho financeiro poderia evitar prejuízo no balanço final, segundo analistas.

Como comparação, no resultado financeiro global, o EBIT (lucro operacional antes de resultado financeiro e dos impostos) foi de US$ 5,2 bilhões e o resultado final foi um prejuízo de US$ 6 bilhões. A direção da General Motors do Brasil não comentou o balanço do trimestre.

Até mesmo a operação da GM na Europa, cobiçada pela Fiat, também fechou o trimestre com um ligeiro prejuízo operacional, de US$ 2 bilhões. Apesar das vendas em alta na Alemanha, onde o governo vem dando incentivos para compra de carros menos poluentes, a empresa sentiu forte queda de faturamento na Europa, de US$ 9,9 bilhões nos primeiros três meses de 2008 para US$ 5,3 bilhões em igual período deste ano. O resultado foi provocado por queda de 46% na produção.

Na Ásia a companhia registrou um prejuízo operacional de US$ 21 milhões, em contraste com resultado positivo de US$ 310 milhões no mesmo trimestre do ano passado. Nem mesmo o crescimento de vendas de 17% na China evitou o resultado negativo. No relatório aos investidores, a GM aponta a queda da receita da Daewoo, empresa coreana que pertence ao grupo e cujas vendas, baseadas em exportação, foram fortemente atingidas pela crise de demanda mundial.

A situação dramática em que se encontra a GM se revela na sua receita global, que caiu 47% no trimestre na comparação com igual período de 2008. Isso significa que o total, de US$ 42,4 bilhões de um ano atrás, passou para US$ 22,4 bilhões. No relatório para os investidores, a companhia explica que o resultado se deve ao declínio da produção mundial. A GM fabricou em todo o mundo 903 mil veículos a menos usando uma base anual. Em 2008, a companhia vendeu 8,35 milhões de veículos em 140 países.

A empresa se apressa para cortar custos e endividamento para evitar a concordata e os detentores de bônus da montadora estão se opondo ao plano delineado pelo governo Obama de trocar US$ 27 bilhões em títulos por uma participação minoritária na GM reorganizada. O prazo para comprovar viabilidade vence daqui a algumas semanas. "Esses resultados indicariam, para mim, que é quase impossível chegar lá", disse Kevin Tynan, analista, da Argus Research.

A GM está preparada para "entrar e sair rápido" da concordata no caso de precisar pedir a instauração legal desse regime, disse ontem seu diretor financeiro, Ray Young. A pretendida troca de papéis com os detentores de bônus representa a maior parte dos US$ 44 bilhões em obrigações que a GM está se esforçando por reduzir, num momento em que sobrevive com os US 15,4 bilhões de ajuda governamental emergencial. (Com Bloomberg)