Título: Ásia ganha mais peso na exportação da Vale
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2009, Empresas, p. B7

A Vale está mais dependente do mercado asiático neste início de ano, sobretudo da China. A Ásia, incluindo China, Japão e outros países, responderam por 63,3% da receita bruta de vendas da empresa no primeiro trimestre. No mesmo período do ano passado, esse percentual foi de 40,4%. Só a China aumentou a participação na receita da empresa de 17,2%, no mesmo trimestre de 2008, para 44,7% entre janeiro-março deste ano. Essa maior dependência dos asiáticos impõe desafios à empresa e preocupa analistas.

O aumento da participação da Ásia na receita da Vale compensou, em boa parte, a redução das vendas para Europa e EUA. Nesses dois mercados, importantes para a mineradora, a produção siderúrgica despencou por força da queda de demanda. A Europa, que respondeu por 23,5% da receita bruta da Vale um ano atrás, viu sua fatia no bolo cair para 15% no trimestre passado. Já os EUA, que tinham participação de 8,6%, caíram para 4,1% este ano.

Em volume, a Vale vendeu 34,6 milhões de toneladas de minério de ferro e pelotas para a China de janeiro a março, um crescimento de 42% sobre as 24,3 milhões de toneladas em igual período de 2008. Enquanto isso, os volumes para a Europa caíram 74% e para as Américas, 80%. Foi uma redução semelhante à verificada pela empresa nas vendas no mercado brasileiro, que totalizaram 3,4 milhões de toneladas ante 16,5 milhões de toneladas no primeiro trimestre do ano passado.

Fábio Barbosa, diretor executivo de finanças da Vale, disse que as importações chinesas estão subindo combinadas com reduções nas compras de outras regiões. Ele afirmou que a situação mostrou a capacidade da Vale de se adaptar à mudança radical representada pela queda de demanda nos EUA e na Europa. "Conseguimos compensar parcialmente a queda dos volumes de vendas para Europa e EUA com aumento das vendas para a Ásia", disse Barbosa. No primeiro trimestre, as vendas de minério de ferro e pelotas da Vale totalizaram 52,1 milhões de toneladas, 32% abaixo do mesmo trimestre de 2008.

O executivo também falou das discussões sobre a definição do sistema de preços do minério de ferro. Barbosa reafirmou o que o presidente da Vale, Roger Agnelli, tem dito: o sistema de referência de preços ("benchmark") é o mais adequado para a indústria de mineração e siderurgia. "Mas as circunstâncias de mercado indicam que esse não é o único sistema possível de ser usado. Outras alternativas estão surgindo e estamos prontos a usar todas as alternativas possíveis se essa for a preferência de nossos clientes."

Uma dessas alternativas é o uso de preços provisórios. Em abril, a empresa informou que estava fazendo "flexibilização das condições comerciais dos contratos de longo prazo de minério de ferro". Essa nova condição levou a empresa a vender minério com desconto provisório de 20% para as usinas chinesas com as quais tem contrato. Barbosa previu que quando a situação da economia mundial se normalizar, a participação da China na receita bruta da Vale tende a se diluir. Ele disse também que as vendas para a Ásia impõem à empresa o desafio de superar dificuldades como a distância para estar mais presente em mercados dinâmicos, particularmente a China.

Rodrigo Ferraz, da Brascan Corretora, disse em relatório que o grande aumento da participação da China nas vendas da Vale, embora positiva em um primeiro momento, eleva o risco da empresa. A razão, disse, é que não há a médio prazo expectativa de uma recuperação significativa para os mercados da Europa, EUA e Japão. O japonês, que representava 10,9% da receita bruta no primeiro trimestre do ano passado, caiu para 8,9%.

Ferraz destacou que o melhor desempenho econômico chinês em relação a outros países ficou evidente nesse resultado da Vale. "A receita bruta proveniente da China foi a única a apresentar crescimento em relação a outros mercados". Ele avaliou que o risco para a Vale de uma maior dependência chinesa a curto prazo está na possibilidade de a China montar estoques e interromper as compras de forma súbita, o que derrubaria as vendas da mineradora. "Daí a importância (para a Vale) de olhar de perto indicadores, como a produção industrial chinesa", afirmou.