Título: GE investe em saúde para reduzir dependência do mercado financeiro
Autor: Dezem,Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2009, Empresas, p. B7
A crise financeira mundial obrigou o grupo GE, um dos maiores e mais diversificados do mundo, a mudar sua estratégia de atuação. Ontem, a GE anunciou um investimento de US$ 6 bilhões na divisão Healthcare até 2015. A companhia planeja criar e aplicar de modo mais eficiente novas tecnologias na área da saúde pública e privada e, com isso, reduzir em 15% o custo total da saúde nos países onde atua.
"Estamos reformulando nossa estratégia, passando agora a investir no maior acesso à saúde", afirmou John Dineen, presidente mundial da GE Healthcare em teleconferência transmitida simultaneamente para sete países.
Com os negócios financeiros prejudicados pela crise - dado que a GE Capital registrou queda de 20% na receita no primeiro trimestre ante o mesmo período do ano passado - apostar no segmento de saúde faz sentido. Sob a perspectiva de que 40% do faturamento mundial da companhia vem do braço financeiro, 50% da infraestrutura (incluindo a GE Healthcare) e 10% é originado em mídia e entretenimento, a estratégia da empresa é clara: diminuir a participação do que é mais arriscado nos resultados, entende-se como o setor financeiro, tentando crescer na infraestrutura, com mais peso para a saúde.
Segundo informou a empresa, do montante total a ser investido, US$ 3 bilhões serão voltados para o desenvolvimento de novos equipamentos de saúde (área onde a GE antes costumava investir US$ 150 milhões por ano) , US$ 2 bilhões se destinarão ao financiamento aos clientes e US$ 1 bilhão irá para o desenvolvimento das áreas subjacentes, que afetam os sistemas de saúde como um todo - como energia, infraestrutura e saneamento básico.
"Com isso, pretendemos fazer com que mais de 100 milhões de pessoas que não tinham acesso à saúde pública ou privada sejam atendidas por ano em todo o mundo, até 2015", afirmou João Geraldo Ferreira, vice-presidente de marketing da GE para América Latina.
Os países emergentes são o foco do grupo nesta nova fase. Segundo Cláudia Goulart, presidente da GE Healthcare para América Latina, os países em desenvolvimento devem conseguir uma retomada do crescimento maior e mais rápida depois da crise, o que gera um grande potencial para o sucesso dos investimentos da companhia.
"A crise deu um reforço para a alteração da estratégia da GE, tanto no que diz respeito aos investimentos na saúde quanto no maior foco nos emergentes", disse Cláudia. Ela explicou que, com os setores financeiros mais sólidos, baixo nível de endividamento e boa liquidez, mesmo diante da desaceleração econômica global, os emergentes por um lado têm sistemas de saúde onerosos, mas por outro, oferecem recursos sustentados para a ampliação do mercado da GE. "E o país que tem mais atributos positivos é o Brasil", enfatizou Cláudia, sem, no entanto, especificar quanto será investido no país.
Serão quatro regiões estratégicas no novo plano da companhia, sendo o Brasil, a China e a Índia os primeiros a terem a definição do destino dos recursos. A empresa evitou citar o quarto país desta lista. "Mas podemos dizer que o Brasil é um dos maiores focos do plano", garantiu a executiva.
A busca de soluções tecnológicas para reduzir o custo das instituições privadas e particulares da saúde será realizada, segundo a empresa, em conjunto com os governos das nações para onde os investimentos serão destinados. O montante de redução dos preços dos produtos também não foi informado pela empresa, mas Cláudia estima que um equipamento de raio X digital, por exemplo, que hoje custa cerca de US$ 380 mil, provavelmente passará a custar menos de US$ 100 mil em quatro anos. "Vamos aumentar o acesso à saúde de qualidade, e vamos ganhar muito com este mercado no futuro", prevê a executiva.
"Para a GE continuar crescendo, mesmo com os negócios financeiros encolhendo, temos de ampliar o faturamento em outras áreas, sendo a Healthcare um ponto importante neste sentido", enfatizou Ferreira, explicando que é a forma que a empresa encontrou de reduzir sua exposição ao risco. O executivo, no entanto, não informou quanto a companhia espera crescer com o novo plano.
Em 2008, a General Eletric obteve um lucro de US$ 18 bilhões, gerando um faturamento de US$ 183 bilhões. O braço de saúde da companhia representou 10% desse montante. Somente na América Latina o faturamento ficou em US$ 8,3 bilhões (maior do que os mercados da China, Rússia e Japão juntos), dos quais mais de 35% foram originados no Brasil.