Título: Copom indica novos cortes no juro
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2009, Finanças, p. C1
O Banco Central sinalizou ontem, em ata de sua última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que poderá baixar os juros básicos neste ano mais do que imagina o mercado financeiro e que, em 2010, não necessariamente terá que reapertar a política monetária.
O texto chamou a atenção dos analistas econômicos pela forma clara e direta com que o BC procurou coordenar as expectativas do mercado financeiro. "O comitê entende que a melhora do cenário prospectivo de inflação para 2009 e em 2010 não foi, até o momento, incorporada na estrutura a termo das taxas de juros", afirma a ata, divulgada ontem, da reunião realizada na semana passada pelo Copom, que cortou os juros em 1 ponto percentual, de 11,25% para 10,25% ao ano.
O BC se refere, no documento, à curva de juros futuros, que, em virtude da recuperação da atividade econômica, passou a incorporar um cenário mais pessimista para os juros. A aposta predominante no mercado era que, em junho, o Copom iria fazer um último corte de juros, de 0,5 ponto percentual. Durante o resto do ano, manteria os juros estáveis em 9,75% ao ano. Em 2010, segundo o cenário traçado pelo mercado, o BC voltaria a subir os juros, em 2,5 pontos percentuais.
Ontem, o BC procurou esvaziar essa visão de que, em virtude de eventual superaquecimento da economia, os juros teriam que subir. "A ata diz que o grau de ociosidade da economia é tão alto que, mesmo que tenha uma recuperação da economia, não vai ser preenchido tão rapidamente", afirma o diretor de investimentos da Porto Seguro, Sérgio Goldenstein.
Outro trecho da ata do Copom também chamou a atenção do mercado: "O comitê entende que a continuidade do processo de flexibilização monetária torna premente a atualização de aspectos, resultantes do longo período de inflação elevada, que subsistem no arcabouço institucional do sistema financeiro nacional".
Nesse trecho, o BC se refere à necessidade de reduzir a remuneração da caderneta de poupança para que ela não se torne mais atrativa do que outras aplicações financeiras. Na ata da reunião anterior, de março, o BC já havia levantado o tema - a diferença agora é que, para a autoridade monetária, a questão deve ser enfrentada com urgência. "Essa urgência toda não combina com quem quer reduzir os juros só um pouquinho em junho", diz Goldenstein, que aposta em um corte de 0,75 ponto em junho.
O estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Roberto Padovani, compartilha da visão de que a ata sinalizou cortes um pouco maiores para os juros em 2009. Para o próximo ano, afirma, a autoridade monetária indica um cenário menos pessimista que o mercado. Há mais de uma leitura possivel. Uma delas é que os juros não subiriam em 2010. Outra é que, no caso de um aperto monetário, ele levaria mais tempo para ocorrer e, possivelmente, seria menos intenso.
"Em vários trechos da ata, está dito que o BC identifica sinais de recuperação da economia, ainda bastante suave e sujeita a incertezas", diz Padovani. "A mensagem é que, mesmo que se confirme esse cenário, a economia seguirá abaixo do potencial durante bom período de tempo." Essa avaliação, diz o economista, está sintetizada nas projeções de inflação do BC.
A cada reunião, o Copom calcula o que aconteceria com a inflação se os juros seguissem a trajetória prevista pelos analistas econômicos do mercado financeiro. Aqui, há um esclarecimento importante. As projeções para juros dos analistas econômicos do mercado são diferentes das apostas feitas pelo mercado futuro de juros. As projeções dos analistas são colhidas pelo BC por meio de uma pesquisa com cerca de 100 departamentos econômicos de bancos e empresas. Já as apostas do mercado são extraídas dos preços negociados no mercado futuro de juros.
A aposta dos analistas econômicos é que os juros caiam a 9,25% ao final deste ano e que, ao longo de 2010, sofram uma ligeira alta, de apenas 0,25 ponto percentual. Sem citar percentuais, o Copom diz na ata que, caso se confirme esse cenário para os juros, a inflação em 2009 ficaria "sensivelmente abaixo" da meta definida para o ano, de 4,5%, e permaneceria ao redor da meta de 2010, também de 4,5%.