Título: MG e RS reagem ao diretório nacional do PT
Autor: Felício , Cesar
Fonte: Valor Econômico, 12/05/2009, Política, p. A7

Já começaram as reações no PT para contornar a decisão da última sexta-feira do Diretório Nacional que fortalece as cúpulas partidárias na escolha dos candidatos aos governos estaduais. O movimento contrário mais forte parte das correntes mais à esquerda da sigla.

Em Minas Gerais, onde o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias e o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, disputam a candidatura, aumentou a possibilidade de acontecer uma "prévia da prévia" na eleição direta dos dirigentes da sigla, em novembro deste ano. A antecipação do processo se daria com o alinhamento dos candidatos a presidente regional em torno de Pimentel e Patrus. No Rio Grande do Sul, os dirigentes da sigla articulam a manutenção de encontro regional em julho por uma candidatura majoritária petista.

A resolução do Diretório Nacional estabeleceu que todas as deliberações sobre as sucessões estaduais só poderão acontecer de fevereiro em diante, ou seja, depois da definição da aliança nacional que deverá apoiar a candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Além disso, a direção nacional do PT reafirmou determinação do estatuto, que favorece apoio a candidaturas majoritárias de outro partido: basta que um terço da Executiva Estadual queira aliança com outra sigla cedendo a cabeça de chapa para que seja convocado um encontro estadual para discutir esta questão, antes da escolha entre os candidatos próprios.

Para as candidaturas próprias foi estabelecida uma cláusula de barreira: só poderão se apresentar os que tiverem o apoio de 40% do diretório estadual ou 15% das executivas municipais. É outro dispositivo que já constava no estatuto e que foi realçado na sexta. "A grande novidade está no calendário. A primeira aliança que o PT definirá será a de Dilma e a eleição dos dirigentes no final do ano não irá alterar este ponto", afirmou o líder do partido na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP).

Mas a decisão do diretório deve influir na escolha dos dirigentes mineiros no processo de eleição direta (PED) da sigla, no final deste ano. A estratégia dos aliados de Patrus era a de quebrar a ligação do PED com a das prévias. Parte dos grupos solidários ao ministro iria apoiar a reeleição para o comando estadual do deputado federal Reginaldo Lopes , aliado de Pimentel. O restante estaria dividido em pelo menos quatro candidaturas. O discurso predominante era o de evitar a antecipação da disputa eleitoral. "Não vai haver alinhamento automático. A tendência é cada grupo apresentar seu candidato", disse o deputado estadual André Quintão, da tendência Articulação , na véspera do Diretório Nacional.

Agora ganhou corpo entre os próprios apoiadores de Patrus usar o PED para fazer a discussão eleitoral, por meio de uma candidatura a presidente estadual única. "É interessante politizar as prévias e deixar claro no PT mineiro qual a política de alianças que se quer e qual seria a candidatura própria que teria a preferência da militância", disse o ex-deputado estadual Rogério Corrêa, da corrente estadual Coerência, que se alinha nacionalmente com a Articulação de Esquerda, do dirigente paulista Valter Pomar. Os aliados de Patrus contabilizam benefícios no recadastramento para a definição dos 135 mil filiados petistas que estarão aptos a votar no PED. Em Belo Horizonte, a refiliação terminou por excluir 2,8 mil militantes cuja entrada no PT foi viabilizada pelo grupo do ex-prefeito Pimentel.

No Rio Grande do Sul, o PT local pode ignorar a interdição do debate até fevereiro. "O encontro estadual de julho está mantido, porque não se trata de prévia. Mas de uma discussão sobre uma candidatura consensual, que se contrapõe a uma aliança com cabeça de chapa de outros partidos", disse o deputado estadual Raul Pont , da Democracia Socialista, que tende a apoiar a candidatura do ministro da Justiça, Tarso Genro.

A cúpula nacional gostaria de entabular negociações com o PMDB gaúcho, que tende a lançar o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, ou o ex-governador Germano Rigotto.