Título: Lula desce de carro para ouvir manifestantes sem-teto
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Fonte: Valor Econômico, 12/05/2009, Política, p. A7
Cerca de 450 integrantes do Movimento Nacional pró-moradia popular reclamaram ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o governo do Distrito Federal vai privilegiar as grandes construtoras e as classes médias e altas no programa Minha Casa Minha Vida. Foi a primeira manifestação popular desde que a sede do governo federal foi transferida para o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O grupo estava na entrada do CCBB e Lula, ao chegar ao local, fez questão de descer do carro, procurar os líderes do movimento, indagar sobre as reivindicações e encaminhar uma comissão ao chefe de gabinete pessoal da Presidência, Gilberto Carvalho.
Lula foi cercado pelos manifestantes, que gritavam seu nome. Ele quis saber a razão do protesto. O coordenador dos manifestantes, Ismael Oliveira Caetano, disse que eles querem a revogação de um decreto, assinado por Lula na semana passada, que repassou para o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) o poder de decidir sobre as licenças ambientais de áreas envolvidas no programa. Os manifestantes pedem que essa atribuição volte a ser do Ibama, pois, acreditam, o Ibram tem ligações políticas com grandes construtoras o que deve dificultar o acesso de pessoas de baixa renda ao programa.
Depois da audiência com os representantes do movimento, Gilberto Carvalho afirmou que manifestações como estas são importantes para saber como o programa habitacional estava funcionando na ponta. "Seria um escândalo se esta distorção acontecesse aqui, do lado do governo federal", declarou Carvalho, lembrando que os populares fazem parte do grupo de zero a três salários mínimos beneficiados pelo programa federal. "Se eles não se mobilizassem, é provável que, de fato, fossem enxotados dos locais onde estão".
Carvalho prometeu procurar a Caixa Econômica Federal, o Ministério das Cidades e o Governo do Distrito Federal para buscar uma intermediação neste processo. Segundo o chefe do gabinete pessoal de Lula, o grupo ainda trouxa outra reclamação, esta mais difícil de ser apurada: cooperativas formadas para participar do Programa "Minha Casa Minha Vida" estariam cobrando taxas de adesão muito altas para que a população carente tivesse direito a uma casa popular.