Título: Missão agora é conter o caos
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2010, Mundo, p. 19

Exército diz que, com descontrole da população, foco dos soldados brasileiros passa a ser a segurança pública e confirma a morte de mais um militar do Brasil no país caribenho

A segurança passou a ser a prioridade do Exército no Haiti e as tropas começam a deixar o socorro às vítimas para as equipes especializadas de outras nações que estão chegando ao país devastado por um terremoto na semana passada. Os soldados brasileiros voltaram às ruas da capital Porto Príncipe para conter o descontrole da população.

Para o comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, o trabalho que será realizado agora na área de segurança pública será diferente do que houve no momento em que o Brasil enviou suas primeiras tropas, em junho de 2004. Segundo Peri, quando a força de paz chegou à capital haitiana, não havia uma relação de confiança com os cidadãos locais. ¿Com o passar do tempo, a população passou a confiar nas nossas tropas¿, afirmou o comandante.

O general garantiu que, se for preciso, o Brasil enviará novas tropas ao país caribenho. Peri assegurou que, hoje, haveria capacidade para dobrar o efetivo em Porto Príncipe, mas a decisão depende do governo brasileiro e de uma formalização por parte da Organização das Nações Unidas (ONU). Se a situação se agravar, o Exército também pode enviar sua polícia.

Às vésperas do terremoto, dois grupos de militares seguiam para a capital haitiana para fazer o rodízio periódico, mas apenas um deles chegou. O outro contingente, que deveria desembarcar na terça-feira passada, voltou ao Brasil porque o aeroporto de Porto Príncipe estava destruído e o de Santo Domingo, na República Dominicana, encontrava-se fechado. ¿Houve um atraso de oito dias, mas o rodízio vai continuar a partir desta semana¿, afirmou Peri, referindo-se à alternância de tropas na missão. O comandante também anunciou que o Exército pretende formar mais turmas para a força de paz nos próximos meses.

Corpo Ontem, o Exército anunciou que foi identificado o corpo do tenente-coronel Vinicius Macêdo Cysneiros. Ele estava no Hotel Cristopher, onde ficava a sede da Minustah, a força de paz da ONU. Também foi confirmada a morte do coronel João Eliseu Souza Zanin. Com isso, sobe para 17 o número de militares mortos por causa do terremoto. Ao todo, 19 brasileiros sucumbiram diante da tragédia, incluindo a médica Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, e o diplomata Luiz Carlos da Costa, o número dois das Nações Unidas no país.

Segundo Enzo Peri, os militares que morreram em Porto Príncipe terão uma cerimônia com honras militares quando os corpos chegarem ao Brasil, amanhã. Os familiares serão trazidos a Brasília para participar do ato, que deve contar com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O comandante ressaltou que a demora no retorno dos militares mortos se deveu aos trâmites burocráticos da ONU, que exige vários detalhes para poder pagar indenizações, já que todos eles estavam em uma missão da organização.

Outros 16 integrantes do Exército feridos no terremoto e que retornaram ao Brasil na semana passada continuam internados. Segundo boletins médicos divulgados pelo Exército, o estado de saúde deles é bom e nenhum corre risco de morte.