Título: Economistas preveem retomada lenta nos EUA
Autor: Phil Izzo
Fonte: Valor Econômico, 15/05/2009, Finanças, p. C4

Na mais recente pesquisa do Wall Street Journal, economistas preveem que a recessão dos Estados Unidos deve terminar por volta do terceiro trimestre, mas dizem que levará anos para a economia se recuperar plenamente.

Em média, os 52 economistas que responderam à pesquisa preveem que a recessão terminará em agosto. Esperam também que o produto interno bruto americano se contraia a um ritmo anualizado de 1,4% neste trimestre, considerando ajustes sazonais, em comparação com a queda de 6,1% no primeiro semestre. Espera-se que um crescimento lento volte no terceiro trimestre, com a economia se expandindo a mais de 2% no primeiro semestre de 2010.

A pesquisa foi feita antes da divulgação, nesta semana, do relatório do Departamento do Comércio americano informando que as vendas do varejo caíram 0,4% em abril, queda que deixou alguns economistas na dúvida se o consumo das famílias está prestes a se recuperar. Os pedidos iniciais de seguro-desemprego divulgados na quinta-feira trouxeram mais dados negativos: na semana terminada em 9 de maio, eles tiveram um aumento dessazonalizado de 32.000, para 637.000, sobre o total revisado de 605.000 da semana anterior. A maioria das perdas de vagas pode ser atribuída à indústria automobilística, e especificamente às 27.000 demissões na Chrysler LLC após seu pedido de concordata em 30 de abril.

Em separado, o Índice de Preços ao Produtor, que mede a inflação no atacado, subiu 0,3%, puxado pela alta no preço dos alimentos. O núcleo do índice, que exclui alimentos e energia, subiu 0,1%

Mesmo antes da divulgação dos novos dados, os economistas já esperavam uma grande retração no consumo. Quase três quartos dos ouvidos disseram que o recente aumento na taxa de poupança nos EUA marca o início de uma grande mudança comportamental.

"A taxa de poupança ficará acima dos níveis de antes da bolha", disse Scott Anderson, do banco Wells Fargo & Co.

A retração dos consumidores é um fator que provavelmente causará grande demora em uma recuperação. Em média, os economistas esperam que a taxa de desemprego suba para 9,7% até o fim do ano, com mais 2 milhões de postos de trabalho perdidos nos próximos 12 meses, mesmo com uma volta do crescimento econômico.

A profundidade da recessão fará com que os EUA levem anos para acabar com a ociosidade que se criou com a crise. Quase a metade dos economistas pesquisados disse que levará de três a quatro anos para absorver o excesso de capacidade produtiva, enquanto mais de um quarto julga que serão precisos de cinco a seis anos.

"Estamos passando por uma transição na economia, voltando para uma proporção mais normal entre o consumo das famílias e o PIB", disse Paul Kasriel, da administradora de recursos The Northern Trust Corp. "Esta é uma recessão muito profunda e definidora, que trará uma transformação na economia americana, e essas transformações não ocorrem da noite para o dia."

Os participantes da pesquisa foram mais positivos quanto à situação do setor financeiro. Um terço dos economistas disse que os testes de estresse dos bancos recém-realizados foram um processo bem feito e muito construtivo; a metade disse que os testes foram úteis, mesmo que tenham subestimado os riscos. Na semana passada o Federal Reserve, banco central americano, e o Departamento do Tesouro divulgaram os resultados dos testes, que tinham o objetivo de avaliar até que ponto o balanço dos bancos suportaria a recessão. Os testes descobriram que, embora alguns bancos possam precisar de mais capital, todas as instituições principais estão solventes. Segundo mais de três quartos dos respondentes, o presidente Barack Obama não precisará voltar ao Congresso para pedir mais dinheiro para ajudar os bancos.

"A melhor coisa dos testes de estresse foi o momento certo da divulgação [dos resultados]", disse Lou Crandall, da firma de análise Wrightson ICAP. "Os testes deixaram tudo no limbo por algum tempo, superando os obstáculos da recapitalização no momento em que os dados começaram a sugerir que o pior estava passando. Isso faz com que esta seja uma boa hora para o sistema bancário iniciar a próxima fase, que é a de limpar seus balanços."

Metade dos economistas ouvidos disse que o estímulo fiscal e monetário do governo proporcionou a base para uma recuperação sustentável. Outros 27% responderam que o estímulo reanimou economia, mas têm dúvidas quanto à sustentabilidade. "O Fed tem as grandes armas e conseguiu, efetivamente, evitar uma depressão ou uma recessão muito mais severa", disse Diane Swonk, da Mesirow Financial.

O papel do Fed na estabilização do mercado melhorou as perspectivas para Ben Bernanke. Em média, os economistas dizem que há 72% de chances de que Obama volte a nomeá-lo como o presidente do Fed em 2010. "Se existe um herói nesta história, é Ben Bernanke", disse Kasriel.