Título: Mantega prevê expansão acelerada da economia no segundo semestre
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2009, Brasil, p. A2

A crise global deixou o Brasil em recessão técnica no último trimestre de 2008 e primeiro trimestre de 2009, mas o país deve voltar a ter taxas de crescimento mais consistentes a partir do quarto trimestre deste ano, disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante o 21º Fórum Nacional, promovido pelo Instituto de Altos Estudos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O ministro aposta na recuperação mais rápida da economia brasileira e do grupo dos Brics em relação a outros países e prevê expansão de 3% a 4% no quarto trimestres deste ano. "Teremos condições de voltar a um ritmo de 4% a 5% no ano que vem", afirmou Mantega, para quem os dados divulgados do segundo trimestre já mostram sinais de recuperação.

Na sua avaliação, os Brics - Brasil, China, Índia e Rússia - podem liderar o crescimento global dentro do cenário pós-crise. "Esses novos protagonistas dividiriam a hegemonia com os países que hoje a detêm. Os países com chances de ter protagonismo combinam potencial de crescimento interno forte, reservas naturais abundantes e, no caso do Brasil, uma indústria moderna", disse.

Para o diretor-geral e vice-presidente do Banco Mundial, Vinod Thomas, o Brasil tem "excelentes oportunidades na crise", mas ressaltou que o país precisa investir mais em capital humano, capital institucional e reorganizar os gastos públicos com maior foco nos bens públicos, enquanto o setor privado deveria investir mais em educação. Thomas ressaltou que o país investe pouco em recursos naturais, segmento que está e deve ser valorizado no muindo.

Para o economista Homi Kharas, do Brookings Institution, os Brics deverão manter a economia global em aceleração. No caso da Índia, cujo PIB subiu 8,5% no ano passado, o economista aposta em crescimento sustentável. "A Índia pode ser uma das maiores potências do mundo, tem forte ligação comercial com a China e tem taxas de poupança e de investimento em torno de 35%", afirmou. Outro fator, diz, é o peso crescente da classe média na população de 1 bilhão de habitantes. "O crescimento da Índia está acelerando e essa aceleração não chegou ao fim".

Segundo Kharas, os Brics devem aumentar a participação na economia global, hoje em 13%, enquanto o grupo dos sete países mais ricos (G-7) deve sofrer redução sobre os atuais 52%, diz o economista. "Desde 2004, o G-7 entrou em colapso, é algo estrutural. A parcela do G-7 deve cair pela metade", afirmou. Segundo Kharas, a economia mundial pode quadruplicar devido aos Brics.

Já o ex-primeiro ministro da Rússia e presidente do Instituto para Economias em Transição, Yegor Gaidar, reconheceu que seu país não se preparou para a crise. A Rússia tem sofrido muito com queda do preço do petróleo e do gás e com a forte redução dos fluxos de capital e de investimento, mas que o governo subiu juros e está cortando gastos, exceto no subsídio aos desempregados.

No caso da China, o economista Albert Keidel, do Carnegie Institute for International Peace, indaga se mesmo com os estímulos do governo, a economia local vai crescer conforme a meta de 8% para 2009 e se esse estímulo pode ter impactos na inflação. Hoje, a taxa de crédito na China corresponde a 15% do PIB. (*Valor Online)