Título: Prazo de validade esticado
Autor: Seixas, Luiza
Fonte: Correio Braziliense, 12/03/2010, Brasil, p. 11

ENEM

Como só haverá um exame este ano, resultado de 2009 poderá ser usado para vagas do segundo semestre de 2010

O ministro da Educação Fernando Haddad já havia anunciado, na quarta-feira, que o Ministério da Educação (MEC) realizará, este ano, apenas um Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A data ainda não está marcada, mas, segundo o MEC, deve ser no fim de outubro. Ontem, em complemento à adaptação que passa o Enem após uma série de problemas, Haddad avisou que, dependendo do interesse das instituições federais, as vagas do segundo semestre poderão ser preenchidas com os candidatos do Enem 2009, para não prejudicar os alunos que não conseguiram vaga no atual processo de seleção, que termina na próxima semana.

A decisão, de acordo com Haddad, foi tomada em virtude do atraso nas negociações sobre as regras da licitação com a Controladoria-Geral da União e o Tribunal de Contas da União.

A iniciativa foi bem recebida pelas universidades, mas nem tanto pelos estudantes. Para eles, a decisão não é boa, simplesmente porque muitos desistiram de fazer a prova por causa do vazamento e consequente adiamento, e estavam esperando o exame que foi prometido para abril. Eu, por exemplo, estava contando com essa prova ainda no primeiro semestre, mas agora vou ter que esperar mais tempo. Além disso, duvido que as universidades vão aproveitar a nota no segundo semestre. Assim como os estudantes, acredito que elas também estão perdendo a confiança no exame, lamentou Amanda Ferraz, 18 anos.

Ela conta que, desde a confusão em 2009, vem perdendo a vontade de participar da seleção. Para aumentar o seu desânimo, Amanda ainda está com dificuldades para reaver o dinheiro da inscrição. Por causa dos problemas com a prova, eu desisti de fazer. E, para aqueles na mesma situação que eu, o Inep afirmou que devolveria o valor da taxa de inscrição, mas até agora não recebi nada. Desse jeito, a gente deixa de acreditar na instituição, disse.

As instituições, no entanto, não perderam a confiança no órgão, ao que parece. De um modo geral, elas elogiam o novo sistema e confirmam que poderão, sim, utilizar o resultado do Enem 2009 para selecionar alunos para o segundo semestre. O presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior e reitor da Universidade Federal de Tocantins, Alan Barbiero, defendeu a decisão do ministro, após lembrar que o exame não tem validade apenas para um exercício e, portanto, pode ser usado em outros processos. Porém, ele concorda com a opinião da estudante ao afirmar que, dessa forma, vai deixar de incorporar alguns alunos que não tiveram a oportunidade de fazer o Enem. Mas é claro que não inviabiliza o Enem. Ao contrário do que muitos pensam, desse jeito não estaremos selecionando alunos com mau rendimento. A gente nota que a qualidade dos alunos da terceira chamada permanece elevada, disse.

Para evitar gastos para o governo e para as instituições de ensino, o pró-reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, Albertino Nascimento, acredita que a melhor forma é realizar apenas um exame por ano, pois a logística é muito pesada. Nós continuaremos adotando o Enem, pois está dando certo. Mas é preciso que ele seja consolidado para ganhar mais credibilidade, explicou.

Defensora do Enem, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) também vai aproveitar os candidatos do próximo semestre. Temos um estudo que afirma que a taxa de evasão do Enem é 80% menor do que a do vestibular. Então, só temos bons motivos para continuar com ele. Além disso, acredito que o Sisu auxiliará no processo de repensar a proposta curricular do ensino médio, no sentido de priorizar o desenvolvimento de habilidades e competências, completou a reitora da instituição, Malvina Tuttman.

Continuaremos adotando o Enem, pois está dando certo. Mas é preciso que ele seja consolidado para ganhar mais credibilidade

Albertino Nascimento, pró-reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia