Título: Atividade industrial diminui, mas renda e emprego sobem
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2005, Brasil, p. A5

A indústria está reduzindo as vendas, o uso da capacidade instalada das fábricas e as horas de trabalho, mas os salários e o emprego continuam em alta e não se alteraram as perspectivas de longo prazo dos empresários, segundo o levantamento "Indicadores Industriais", divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em janeiro, as vendas reais da indústria apontaram queda de 1,97% em relação a dezembro, já descontados os fatores sazonais (ou 7,41% sem ajuste). Desde setembro, quando começou a elevação da taxa básica de juros, as vendas caíram 4,2%. O número de pessoas ocupadas na indústria em janeiro aumentou 7,4% em relação a janeiro de 2004, a maior taxa desde a criação dos indicadores da CNI, em 1992, e o oitavo mês consecutivo de crescimento do emprego, na comparação do índice acumulado em 12 meses.

Segundo os economistas da CNI, o comportamento dos indicadores mostra um "arrefecimento da atividade industrial", motivado, em parte, pelo ajuste no ritmo de crescimento, que foi muito alto em 2004, e também em conseqüência da elevação das taxas de juros. O aumento da massa salarial, resultante da renda e do emprego, mostra, porém, que a procura por bens de consumo por parte de empregados continua em alta. As boas perspectivas mantidas pelos empresário em relação ao futuro explicam o crescimento de emprego e renda dos trabalhadores da indústria, acreditam os economistas da CNI. O boletim "Indicadores Industriais" chama a atenção para o fato de que o emprego na indústria vem crescendo, sem interrupção, por 13 meses, e, desde então, já cresceu 7,3%. Em comparação a dezembro de 2004, o emprego industrial cresceu 0,18%. Se descontada a variação sazonal (os efeitos comuns nesse período do ano), o aumento é de 0,27%. Embora a massa salarial (emprego e rendimentos dos trabalhadores), em janeiro tenha caído 3,04% em relação a dezembro, essa queda é "estritamente" sazonal, segundo a CNI, porque se concentram em dezembro pagamentos por participação nos lucros e aumentos de horas-extras. Sem os efeitos sazonais, a massa salarial cresceu 0,18%. A CNI nota que o crescimento, em janeiro, se deu a um ritmo menor que nos meses anteriores, mas que "impressiona pelo fato de ocorrer sobre uma base de comparação já bastante elevada". Há seis meses consecutivos a massa salarial cresce acima de dois dígitos quando comparada ao mesmo mês do ano anterior. Em janeiro, o aumento foi de 10,48% em relação a janeiro de 2004. "A demanda vai continuar crescendo a depender das famílias ligadas ao setor industrial", comentou o coordenador de pesquisas da CNI, Renato da Fonseca. Desde 1992 não se registra índice tão alto de utilização da capacidade da indústria no início do ano quanto em janeiro, quando chegou a 81% - 82,3%, se eliminados os fatores sazonais. Houve uma queda pouco superior a 0,5 ponto percentual em relação a dezembro, o que, para a CNI, reflete a desaceleração da atividade industrial e a maturação de investimentos feitos nos dois anos anteriores.