Título: Viagem confirma US$ 15 bilhões para o Brasil
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2009, Brasil, p. A3

Contratos de financiamento e acordos de parceria totalizando US$ 15 bilhões foram assinados ontem durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, agora o principal parceiro comercial do país. Os contratos envolvem empréstimo de US$ 10 bilhões para a Petrobras, US$ 800 milhões para o BNDES, US$ 100 milhões para o Itaú BBA, além de investimento de US$ 4 bilhões de uma companhia chinesa no grupo de Eike Batista e outras operações menores. O produtor automotivo Chery confirmou também que vai produzir carros no país.

Para o presidente Lula, os contratos firmados ajudarão a expandir mais o comércio bilateral e permitirão a participação chinesa em importantes projetos. A decepção veio nas áreas de carne suína e na manutenção do bloqueio de um contrato de venda de 45 jatos da Embraer, com vagas promessas de que os assuntos serão "analisados".

Lula e o presidente Hu Jintao destacaram a importância dos dois países como grandes economias emergentes com maior potencial de sair da crise atual, e assinaram uma série de entendimentos sinalizando que a abrangência da parceria estratégica vai bem além do plano bilateral. Eles pediram a reforma urgente da arquitetura internacional para torná-la "mais justa e equilibrada" e defenderam a oferta de mais recursos por parte do FMI e Banco Mundial para países em desenvolvimento afetados pela crise.

Sobre a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), espécie de diretório político do planeta, a nuance foi clara. Para o Brasil, essa reforma é "inexorável" e a China terá papel importante para definir novos membros permanentes. A resposta chinesa não diferiu muito das outras, porque o país resiste em mudar o Conselho de Segurança para não admitir a entrada do Japão.

Na área comercial, o presidente Lula tinha proposto a Jintao, em Londres, à margem do G-20 financeiro, o uso das duas moedas, yuan e real, no comércio bilateral. Pequim, porém, tomou suas distâncias no momento. Lula propôs uma reunião de ministros de Finanças e dos presidentes dos bancos centrais de ambos para discutir cooperação financeira, incluindo alternativas no financiamento comercial.

Lula e Jintao consideram o "aumento do protecionismo" no comércio uma reação à crise econômica internacional e avisaram que China e Brasil não aceitam a proposta dos Estados Unidos, de "saltar" partes das negociações da Rodada Doha e negociar cortes tarifários de maneira bilateral.

Lula foi chamado de "grande amigo da China", sob aplausos, e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, destacou que o convite de Hu Jintao a Lula para dois jantares demonstra o grande interesse da China pelo Brasil.

A visita de Lula termina hoje focalizando a área espacial. Ela marcará a continuidade e a expansão do programa Cebers (Agência Espacial Brasileira e Administração Estatal do Espaço da China). Serão lançados mais dois satélites, em 2010 e 2013, e as imagens geradas serão colocadas gratuitamente à disposição de países em desenvolvimento.

Na viagem, mais uma vez, a popularidade do presidente ficou clara. Ao sair do seminário com executivos dos dois países, ele foi "submergido" por empresários, que queriam ser fotografados ao lado dele. Lula atendeu a todos com paciência e ainda deu palpites sobre como fazer a foto.