Título: IBS reage e ataca governo e montadoras
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2005, Brasil, p. A5

A indústria siderúrgica partiu ontem para o contra-ataque e criticou o governo e os principais consumidores de aço no país pela redução a zero do imposto de importação de 15 produtos siderúrgicos. "Se o objetivo do governo é impedir a alta dos preços do aço ao consumidor final, seria mais coerente reduzir a alíquota de importação em toda a cadeia, incluindo o segmento de veículos e não só o da matéria-prima", rebateu em nota o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), entidade que representa as empresas do setor. "Se a preocupação (do governo) é com a inflação, é mais eficaz atacar na ponta final da cadeia, onde o bolso do consumidor é mais atingido", disse ao Valor o presidente do IBS, José Armando de Figueiredo Campos. Na nota, o IBS dirigiu suas baterias contra os fabricantes de veículos, que vinham alertando o governo sobre eventuais efeitos da alta do preço aço sobre a política econômica. "O episódio (a eliminação do imposto) revela uma subversão da lógica do mercado em benefício de setores específicos que gozam de tarifas protecionistas de até 35%, como o caso do setor automotivo." Procurado, o presidente da Anfavea, Rogelio Golfarb, não foi encontrado para responder as críticas do IBS, mas a assessoria de imprensa da entidade disse que prevalece a posição já manifestada de que a redução do imposto é positiva e funcionará como ferramenta nas negociações de preços no mercado doméstico. Para o IBS, sindicatos e associações de consumidores manobraram de forma especulativa e preventiva para reajustar os próprios preços. Serviu de combustível para essa manobra, segundo o IBS, o anúncio da Companhia Vale do Rio Doce de aumentar os preços do minério em até 90%. Um reajuste dessa magnitude no minério teria impacto de até 15% no preço do aço, segundo carta enviada, no fim de janeiro, pela Anfavea, ao ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e que considerava cálculos de analistas do setor. O presidente do IBS negou que a redução das alíquotas vá influenciar os entendimentos entre usinas e consumidores: "As negociações de preços continuarão a ser norteadas pela oferta e demanda. Se o mercado não é comprador, os preços tendem a se estabilizar e se o mercado é ruim, os preços caem", comparou Campos. Essa não é, porém, a realidade da siderurgia que desde 2003 vive um ciclo de alta puxado pela forte demanda internacional, sobretudo da China. Campos informou, no entanto, que as usinas registram queda na demanda de alguns setores, como construção civil, bens de capital e máquinas e equipamentos, pelo terceiro mês consecutivo. O executivo disse ter conversado, segunda-feira, com Furlan a quem argumentou que o setor considera a medida "injusta". "Todo nosso esforço é para que o governo reconheça que deu um passo errado e volte atrás na medida", disse o presidente do IBS.