Título: Estratégia petista é usar CPI para acusar oposição de visar à venda da Petrobras
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2009, Política, p. A7

Sem conseguir evitar a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado para investigar denúncias contra a Petrobras, o PT decidiu partir para a disputa ideológica com o PSDB, partido que propôs a investigação. Os petistas querem convencer a população de que os tucanos tentam enfraquecer a empresa com a intenção de privatizá-la futuramente, em um eventual governo do PSDB. A estratégia do PT é fazer o feitiço virar contra o feiticeiro: a iniciativa da CPI renderia aos tucanos, em vez de vantagens, prejuízos eleitorais.

Faz parte da ofensiva petista uma ampla mobilização popular, que terá seu primeiro evento amanhã, no Rio de Janeiro, patrocinado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras entidades. Se bem-sucedida, a campanha de rua deve ser ampliada pelo resto do país. "O PT vai fazer uma disputa ideológica. Vamos mostrar que uma CPI com esse nível de atabalhoamento tem objetivo político-eleitoral", afirma o deputado José Genoino (SP). "Como eles (os tucanos) não conseguiram privatizar a Petrobras, agora querem enfraquecê-la", diz.

As lideranças do PT afinaram o discurso em relação ao tema. Os petistas acusam o PSDB de causar danos à Petrobras, propondo uma CPI para investigar uma empresa estratégica como ela, sem um fato determinante - na opinião dos petistas -, num momento de crise financeira e em que se discute a exploração do petróleo em camadas profundas, o pré-sal, e o novo marco regulatório do setor.

Em coro, petistas lembram que o governo Fernando Henrique Cardoso tentou, em 2000, até mudar o nome da empresa - para PetroBrax -, após encomendar uma consultoria, e recuou após a repercussão negativa. O PT pretende concentrar as críticas ao PSDB, preservando eventuais pontes com o DEM, que num primeiro momento concordou em adiar a criação da CPI. Também busca aproximação com o PMDB, em vez de acirrar divergências recentes.

A bancada do PT, reunida ontem, decidiu rechaçar a proposta do deputado André Vargas (PT-PR), de criação de uma CPI mista (deputados e senadores) da Petrobras, para esvaziar a do Senado. Prevaleceu o argumento de que não se pode criar uma CPI para contrapor a outra. A ideia é deixar claro que o PT é contra e que é uma "irresponsabilidade" da oposição uma CPI contra a empresa, quando ela está em busca de mercado no exterior. "No governo do PSDB, a Petrobras carecia de investimentos e gestão séria. Chegaram a cogitar mudar o nome", diz o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP).

O ato público desta quinta-feira está sendo promovido pela FUP, CUT, União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Ordem dos Advogados do Brasil/RJ e outros representantes de movimentos sociais. A concentração está marcada para às 9h, na Praça da Candelária. De lá, sairá uma passeata rumo ao edifício sede da Petrobras, na Avenida Chile, em torno do qual os manifestantes farão abraço simbólico.

Será um protesto em defesa da Petrobras e por uma nova "Lei do Petróleo". O PT escalou o deputado Luis Sérgio (RJ) para participar da organização da mobilização. Segundo ele, ônibus deverão levar petroleiros de Minas Gerais ao Rio. A expectativa é reunir cerca de duas mil pessoas. "Já está havendo mobilização no país inteiro contra a tentativa de desestabilização da Petrobras", diz o líder do PT da Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (SP).

No ato público de amanhã, os tucanos serão acusados de atacar a soberania nacional. A CPI será mostrada como instrumento de enfraquecimento da empresa. As entidades defenderão a aprovação de uma lei que garanta o controle estatal e social sobre as reservas brasileiras de petróleo e gás. Será destacado o interesse de empresas estrangeiras na exploração do petróleo da camada pré-sal.