Título: Chineses querem investir na exploração do pré-sal, diz Lula
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2009, Brasil, p. A4

Os chineses estão ávidos para participar do pré-sal, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao encerrar sua visita em Pequim, notando que a discussão foi "iniciada"´ com o empréstimo de US$ 10 bilhões fornecido à Petrobras, no momento em que o crédito está escasso no mercado internacional.

A afirmação indica que o empréstimo, que teve como contrapartida mais venda de petróleo para o mercado chinês, pode ser seguido por outros créditos ou participação de estatais chinesas na exploração e produção em áreas do pré-sal junto com a Petrobras.

Para Lula, o financiamento fechado terça-feira ilustra a importância que a China dá ao potencial da economia brasileira. Ele disse que "o crédito despencou e as exportações estão diminuindo em todos os flancos", mas que "o Brasil está bem, obrigado. Tivemos que dar uma freada por precaução, mas os sinais são de que vários setores estão se recuperando".

O presidente anunciou a decisão de abrir agências do BNDES e do Banco do Brasil na capital chinesa, o primeiro para ser "indutor de construção de parcerias", e o segundo também para captar crédito. Do seu lado, o Banco de Desenvolvimento da China (BDC), o BNDES chinês, vai inaugurar sua agência em São Paulo brevemente, podendo impulsionar investimentos de companhias chinesas. O banco financia 32 projetos no Brasil, no valor de US$ 12 bilhões. Seus ativos chegam a US$ 553 bilhões.

A representação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Pequim já está instalada, mas aguarda autorização do governo chinês para funcionar normalmente. O Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty inaugurou, durante a visita de Lula, uma versão em chinês do site brasil.tradenet, para facilitar o acesso de importadores chineses a produtos e empresas brasileiras, informou o diplomata Norton Rapesta. Por sua vez, a Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústria de Base (Anbid) prepara um "road show" do Brasil em vários países da Ásia com capacidade de liquidez e investimentos (sobretudo China), na busca de fundos de investimentos especializados em infraestrutura.

Lula admitiu que vai levar tempo para que o comércio com a China, e com outros grandes parceiros, utilize as respectivas moedas em lugar do dólar, notando que com a Argentina isso demorou bastante, até por questões levantadas pelos bancos centrais. Em Pequim, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, insistiu com os parceiros chineses sobre a necessidade diversificar a pauta. Hoje, a importação chinesa a partir do Brasil é composta de 33% de soja, 30% de minério de ferro e 10% de petróleo, comparados a 95% de manufaturados chineses exportados para o Brasil.

O ministro observou que os chineses se tornaram o maior parceiro comercial do Brasil, superando os EUA, mas que seus investimentos na economia brasileira, desde 2002, não passam de US$ 220 milhões, comparados aos US$ 25 bilhões dos EUA no mesmo periodo.

Para Miguel Jorge, China continuará sendo o principal parceiro este ano, já que as economias da Argentina e dos EUA continuam declinando, enquanto a chinesa registra expansão de quase 8%. A expectativa em Pequim é que a China possa se tornar a segunda maior economia do mundo dentro de dois a três anos. Projeções do Ministério do Desenvolvimento para o superávit comercial deste ano são mais positivas do que as do Banco Central. O BC estima que o saldo ficará em US$ 17 bilhões - no ano passado atingiu US$ 24,7 bilhões. O ministério trabalha com a meta de US$ 20 bilhões.