Título: Governistas cedem e aceitam negociar presidência da CPI
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 21/05/2009, Política, p. A7

Sob ameaça da oposição de paralisar os trabalhos no Senado e a votação de Medidas Provisórias, o governo tende a compor com o DEM e PSDB na nomeação do relator e do presidente da CPI da Petrobras. Ontem, líderes governistas indicaram que poderão aceitar Antonio Carlos Magalhães Junior (DEM-BA) para a presidência da comissão. A negociação passará pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os líderes partidários esperarão o retorno do presidente de viagem ao exterior, no fim de semana, para nomear os representantes.

Filho mais velho do falecido senador Antonio Carlos Magalhães e pai do deputado ACM Neto, o senador baiano foi escolhido pelo DEM por ser um dos parlamentares mais fiéis ao partido. Ele é tido por senadores como político que segue as determinações partidárias - e não um parlamentar com expressão no DEM. Nas duas vezes em que assumiu o mandato, o fez por ser suplente de seu pai. ACM Jr ocupou a vaga em 2001, quando seu pai renunciou para não perder direitos políticos, e voltou ao Senado em 2007, com a morte de ACM.

No Senado, ACM Jr é considerado um político moderado, com bom trânsito no PMDB e PTB. Ele não nega que sua indicação pelo DEM deve-se a conversas do líder do partido, José Agripino (RN), com o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL) e do líder do PTB, Gim Argello (DF). Pemedebistas veem nele um aliado, de forma a manter o governo sob pressão.

ACM Jr disse que não insistirá na investigação da mudança no regime tributário feita pela Petrobras em 2008, fato que levou o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, ao Senado, na semana passada, para conversas com o PT e PSDB. Ele não deve criar grandes problemas para Gabrielli. A relação entre eles é boa, e se conhecem da Universidade Federal da Bahia, onde lecionavam. Na semana passada, reuniram-se para discutir questões da estatal. O foco proposto para a CPI deve ser a investigação dos contratos da Petrobras com prefeituras e ONGs, além de financiamento eleitoral. ACM Jr criticará os contratos da Petrobras com prefeitos baianos, que teria ajudado o PT e o governador da Bahia, Jaques Wagner nas eleições.

Com Wagner, ACM Jr diz ter um relação cordial e destacou que na semana passada empenhou-se para aprovar a liberação de um empréstimo de US$ 409 milhões do BID ao governo da Bahia. Mas o diálogo entre os dois não é tão tranquilo, como mostra um episódio recente. Sócio da empresa de comunicação Rede Bahia, ACM Jr atacou publicamente uma investigação do governo estadual na empresa. Foi vazado na Assembleia Legislativa um e-mail da Secretaria da Fazenda, supostamente escrito pelo chefe da inspetoria de fiscalização de empresas, no qual o governo exigia que se encontrasse irregularidades. Para Wagner, foi armação de ACM Jr.

O senador do DEM afirmou que conduzirá a CPI, se for confirmado presidente, "sem pirotecnia". Ele participou como titular de duas CPIs: do Apagão Aéreo e dos Cartões Corporativos. Ambas deram em nada. No Senado, é titular de comissões de peso: Constituição e Justiça, Assuntos Econômicos e Ciência e Tecnologia.

A indicação do DEM para presidir a CPI pode acalmar a oposição, que reivindica espaço por só ter três dos 11 titulares. O líder do PSDB, Arthur Virgilio (AM), ameaçou bloquear a pauta do Senado e , em discurso no plenário, criticou as manifestações de movimentos sindicais contra as investigações. "O PT tem que romper com essa pelegada", disse. "Temos denúncias de que eles usaram dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para se prostituir", disse.

Ontem, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), indicou que pode aceitar a proposta da oposição. "Não podemos descartar nada. Não precisa de confronto. Vamos tentar o entendimento. Mas antes precisamos unir a base do governo", disse. "Se tensionar na CPI, contaminará os trabalhos no plenário", disse Renato Casagrande (PSB-ES).

A possível nomeação do DEM, no entanto, não é bem vista no PT, que teme a atuação do DEM e PSDB em ano pré-eleitoral, e reclama que a estatal poderá ser prejudicada. Petistas reivindicam que o governo tenha a relatoria e a presidência. " Dentro do partido, cresce a pressão para que a relatoria e a presidência fiquem com o governo. É precio ter um controle muito grande sobre essa CPI. Não podemos titubear " , comentou ontem um petista influente no governo.Caso o DEM fique com a presidência, o PT quer a relatoria. O PMDB também quer o controle da comissão e os líderes dos dois partidos, Renan Calheiros e Aloizio Mercadante, ainda não conseguiram entrar em acordo.