Título: Palocci discute reforma ministerial com PMDB
Autor: Raymundo Costa e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2005, Política, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acelerou as consultas para conclusão da reforma ministerial, que deve ser anunciada logo. No processo de negociações, um ministro apareceu com destaque nas últimas 78 horas: Antonio Palocci, da Fazenda. Ontem, Palocci teve conversas com líderes políticos, como o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e encerrou o expediente numa reunião do presidente com ministros, realizada à noite, na Granja do Torto, para discutir o encaixe das últimas peças do quebra-cabeças ministerial. Por meio do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o presidente Lula consultou a cúpula do PMDB sobre a possibilidade de a sigla ocupar o Ministério do Planejamento. Os pemedebistas responderam que aceitam a Pasta, que já foi rejeitada por outras legendas, desde que ela venha como um terceiro ministério. O partido já ocupa a Previdência Social e das Comunicações. O PMDB aceita o Planejamento por acreditar que dificilmente levará um terceiro ministério com "poder de caneta". Mas quer manter outros dois que permitam ao partido fazer política. Por exemplo: aceita trocar as Comunicações, atualmente com Eunício Oliveira (CE), pela Integração Nacional, Pasta que atende à capilaridade do partido, que tem fortes raízes no Norte e Nordeste. Ciro Gomes, atual ocupante do cargo, nesse caso seria deslocado para o Ministério da Saúde. O nome do senador Romero Jucá (RR) é uma das opções do PMDB para o Planejamento, se o ministério for efetivamente destinado ao partido, o que ainda não está decidido. Relator da Medida Provisória 232, Jucá é um nome bem aceito por Palocci, que aprovou sua atuação como relator do Orçamento de 2005, mas o próprio Renan Calheiros disse ontem à tarde ao ministro da Fazenda que o PMDB prefere vê-lo ocupando a Previdência, chefiada pelo senador Amir Lando (RO). A senadora Roseana Sarney descartou ontem a hipótese de ocupar o Ministério do Meio Ambiente, no lugar da ministra Marina Silva. "Se já dizem que somos uma oligarquia, imagine, agora seremos o feudo verde", ironizou Roseana, numa referência ao fato de seu irmão, Zequinha Sarney, ter ocupado esse ministério no governo passado. Ontem à noite, o destino mais provável de Roseana era o Ministério das Comunicações. Nos últimos dias, diante da suposta decisão do presidente em manter Aldo Rebelo na Coordenação Política, contra a vontade PT, quatro ministros e o presidente do partido, José Genoino, decidiram aumentar a pressão sobre Lula para que devolva o cargo à sigla. Numa reunião realizada na noite de domingo, o grupo resolveu indicar o ministro da Casa Civil, José Dirceu, para o cargo de articulador. O encontro foi batizado, ironicamente, de "reunião de coordenação política sem o coordenador". Além de Genoino e Dirceu, participaram da reunião os ministros Antonio Palocci (Fazenda), Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação do Governo) e Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social). Pelo arranjo discutido no encontro, Dirceu deixaria a Casa Civil para cuidar da coordenação política. O principal argumento dos petistas para defender a entrega da articulação a um ministro do PT - Aldo é do PCdoB - é a reeleição de Lula em 2006. Segundo eles, somente um ministro do partido "majoritário" da base de sustentação ao governo Lula tem condições de negociar as alianças nos estados com vistas a 2006. "A eleição coloca o problema da articulação política. Não é com a presidência dos partidos que se vai negociar as alianças de 2006. A estrutura dos partidos é dentro do parlamento", explicou um ministro. "O nível de entendimento remete aos interesses do partido majoritário." A reunião dos ministros petistas às escondidas, na noite de domingo, magoou Aldo. "A pressão subiu muito depois desse encontro", comentou um assessor do Palácio do Planalto. "Os participantes da reunião são pessoas com quem Aldo despacha diariamente", contou um outro assessor. Na avaliação dos que defendem a manutenção de Aldo no cargo, devolver a coordenação política ao PT é um equívoco. Antecipa o debate sucessório, encurta na prática o mandato do presidente e ofusca os ministros que estão desempenhando bem seu papel administrativo. Mais uma vez, alegam aliados do governo, o PT está desprezando os partidos que apóiam a gestão Lula. Os petistas estariam minimizando a importância de o governo possuir uma base ampla de apoio no Congresso. Sua principal alegação é que o governo não tem tido, da base aliada, a lealdade correspondente à sua participação no governo. Ontem, um ministro próximo a Lula disse que, como neste e no próximo ano o governo não apresentará propostas de emenda constitucional ao Congresso, não haverá necessidade de se ter uma base superior a 260 deputados na Câmara. "260 é o ponto de equilíbrio", sustentou um ministro.