Título: Brasil propõe reação mais forte à emissão de spam
Autor: Rahal , Manuela
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2009, Empresas, p. B3

A rápida expansão da internet no Brasil colocou o país na liderança de vários segmentos do mundo virtual, como o acesso a redes sociais. Mas o país também é campeão em um torneio pouco glorioso: o da emissão em massa de mensagens eletrônicas não-solicitadas ou spam. Segundo a empresa de segurança Symantec, 10% de todo o lixo virtual que circula no mundo foi enviado a partir de computadores brasileiros nas primeiras semanas de maio. É um mar de lixo virtual. Segundo a Cisco, maior empresa de redes do mundo, 90% de todas as de mensagens que circulam no planeta são indesejadas, o que representa 200 bilhões de e-mails ao dia.

O spam gera desconforto para os usuários e prejuízo para as empresas. A conta é astronômica. No caso das operadoras de telefonia, o cálculo é de que essas mensagens consomem três gigabits por segundo, o equivalente ao uso de três mil usuários com conexão de um megabyte, a mais comum no Brasil. Além dos gastos desnecessários com infraestrutura, o spam também consome tempo dos funcionários das empresas. Em média, são três minutos gastos por dia para apagar mensagens.

A má fama do país, porém, encobre o fato de que a maioria das mensagens não-solicitadas não parte de brasileiros. Como em uma história de horror, entram aqui os chamados computadores zumbis. São máquinas infectadas por vírus que permitem aos verdadeiros autores do spam usar o equipamento sem que seus donos percebam.

É o que mostra um levantamento feito pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) entre 2006 e 2007. O teste, feito com base em máquinas conectadas à internet, indicou que 99,9% das mensagens não-solicitadas enviadas pelos equipamentos vieram de fora do Brasil. Ou seja, eles funcionaram como uma ponte entre o emissor real e seu destinatário. Pelo menos 94% das mensagens tinham outros países como destino.

Por causa disso, porém, o Brasil tem hoje 1 milhão de endereços de internet (IPs) bloqueados para recebimento de mensagens por sistemas de correio eletrônico em todo o mundo, o que causa problemas para quem faz uso legítimo da ferramenta.

A vulnerabilidade brasileira tem duas razões, dizem membros do CGI.br. Primeiro, a popularização da tecnologia no país não foi acompanhada pelo mesmo grau de preocupação dos usuários com segurança, já que muitos deles não tinham intimidade com o computador ou os riscos presentes na web. Além disso, os provedores de serviços de internet e as operadoras de telefonia não deram a mesma atenção que companhias de outros países a uma vulnerabilidade técnica que facilita as invasões. "As operadoras locais estão pagando a banda larga usada pelos spammers", diz Henrique Faulhaber, conselheiro do CGI.br.

Agora, para reduzir os riscos, CGI.br está discutindo com o governo e as empresas do setor a adoção de medidas de proteção. Segundo a proposta mais recente, apresentada ontem em São Paulo, o país passará a seguir uma prática já seguida por vários países. A recomendação consiste em fechar o principal canal usados pelos spammers na infraestrutura da internet. A proposta começou a ganhar consenso no fim do ano passado, o que permitiu chegar, agora, a um novo patamar de aceitação.