Título: Empresas discutem proposta para cortar CO2
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Fonte: Valor Econômico, 25/05/2009, Internacional, p. A8

Homens de negócios do mundo inteiro estão reunidos em Copenhague no World Business Summit on Climate Change para debaterem o papel das empresas na redução das emissões dos gases-estufa. Um dos pontos que será levado pelo brasileiro Marcos S. Jank, presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica) - um dos poucos representantes do país no encontro - é o uso de tecnologias baratas pelos países emergentes.

O megaevento começou ontem e reúne até terça mais de 700 CEOs de todo o mundo que tratarão do futuro das economias de baixa emissão de carbono. No debate internacional das mudanças climáticas há uma "baixíssima presença de economias emergentes na questão tecnológica", reclama Jank. "É como se as soluções que temos, que são eficientes e baratas, não existissem". Segundo ele, as grandes corporações estão se preparando para vender pacotes grandes e caros de tecnologias limpas aos emergentes. "Acho que estão percebendo que os governos vão colocar aí dinheiro e subsídios em uma época em que os recursos secaram e querem aproveitar", continua. "Mas nós temos coisas soluções boas e baratas que não estão merecendo atenção."

Etanol é o carro-chefe para Jank. Ele lembra que o Brasil produz etanol desde os anos 50, mas que a solução não gera nenhum crédito de carbono porque está inserida no cenário anterior ao das regras definidas pelo Protocolo de Kyoto. O uso do etanol, portanto, não é considerado um esforço adicional que ajudará a reduzir as emissões e, por isso, não pode receber créditos. Jank cita um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que diz que cinco anos de circulação de carros flex produziu redução de emissão de 50 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. "Isto é o que o Brasil deixou de emitir por usar carros a etanol. Equivale ao plantio de 150 milhões de árvores."

Estes são alguns dados que ele citará em sua palestra hoje, além de mencionar outras tecnologias dos emergentes como o conceito das turbinas bulbo nas hidrelétricas e o carvão vegetal sustentável e renovável (de siderúrgicas mineiras, que só usam seu estoque de eucalipto na produção de ferro-gusa). Há um grupo pequeno de empresários brasileiros no evento - executivos da Brasil Equity Participações, Copagaz, Braskem e MDD Papéis. Empresários europeus têm forte presença (Deutsche Bank e Bayer, a Airbus, a British Petroleum e até a universidade de Oxford). Há 20 nomes dos EUA, entre eles Coca-Cola, Pepsi Co., Duke Energy, Price Waterhouse e universidades como a da Califórnia e o MIT.

"Esta é a hora em que os homens de negócio devem falar às lideranças políticas e pedir metas de logo e médio prazo de cortes de redução nas emissões e dinheiro na mesa para ajudar os países em desenvolvimento a adaptar-se e perseguir seu futuro de baixa emissão de carbono", diz em nota Jeremy Hobbs, diretor-executivo da organização não-governamental Oxfam e um dos palestrantes do "Copenhague Call", como está sendo chamado o evento. "Neste momento, o setor privado é um saco de gatos. Existem empresas com visão de liderança e ação, como a Marks and Spencer no Reino Unido ou a Gap e Starbucks nos EUA. Mas há outras que só estão se desculpando por não fazer nada."

Ontem, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, disse aos participantes que as empresas devem pressionar os governos de seus países para que limitem a emissão de carbono e não criticarem tais restrições. "Para aqueles que direta ou implicitamente estão fazendo campanha contra ações climáticas, eu tenho uma mensagem clara: suas ideias estão ultrapassadas e o tempo de vocês está passando".

Segundo a Oxfam, o encontro deve especificar que é necessário um corte de 80% nas emissões em 2050, comparados aos níveis de 1990. E uma queda de 40% nos níveis de 1990 em 2020, nas emissões dos países ricos. As nações industrializadas devem se comprometer com pelo menos US$ 150 bilhões por ano para ajuda os países pobres possam se adaptar aos efeitos das mudanças do clima.

O encontro é uma tentativa de unir a agenda da crise financeira com a crise climática, diz Per Meilstrup, diretor de clima do Copenhague Climate Council, que organiza o evento. "Se quisermos resolver a crise financeira no jeito antigo, emitiremos mais CO2, o que, no futuro, afetará a economia ainda mais seriamente", diz. "Temos que mirar uma economia verde. (Com Reuters)