Título: Mais de 5 mil funcionários aderem a demissões voluntárias dos Correios
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2009, Empresas, p. B1

Pelo menos 5.371 funcionários aderiram ao programa de demissões voluntárias (PDV) aberto pela Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) e serão dispensados a partir do dia 1º de junho. O custo do PDV alcançará R$ 351 milhões, mas a estatal prevê que essa despesa terá sido amortizada em 11 meses. O prazo para as adesões terminou na sexta-feira.

Hoje os Correios têm uma folha salarial que chega a R$ 6 bilhões (com encargos) e foi inchada pela greve dos carteiros de 2008, que culminou na concessão de um adicional de risco 30% nos salários da categoria, além de abono de R$ 260 a 16 mil funcionários. A economia a ser feita com o PDV praticamente reverte o aumento da folha provocado pelos reajustes salariais do ano passado, que foi estimado em cerca de R$ 380 milhões.

Poucas horas antes de ter expirado o prazo, as 5.371 adesões haviam abrangido 23% do público alvo do programa - um total aproximado de 23 mil funcionários com dez anos de experiência e idade mínima de 50 anos. A ECT tem 115 mil empregados em todo o país, na rede própria, desconsiderando trabalhadores de agências franqueadas - sem vínculo empregatício com a estatal.

Apesar dos resultados positivos no médio prazo, o PDV deverá afetar negativamente o balanço de 2009. Sem incluir as despesas com indenizações trabalhistas, a ECT deve repetir o lucro operacional pelo terceiro ano seguido - desta vez, ele ficaria em torno de R$ 40 milhões.

O presidente da estatal, Carlos Henrique Custódio, destaca que a receita subiu 8,4% nos quatro primeiros meses do ano e chegou a R$ 3,8 bilhões. "Em um momento de crise, parece que a nossa tradição e credibilidade tornam-se atrativos naturais", diz ele, responsável pela difícil missão de resgatar a imagem dos Correios após a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que abalou o país em 2005.

A estatal conseguiu recuperar clientes em marketing direto e fechou contratos importantes em outros segmentos, como o de R$ 31 milhões por ano com a prefeitura de São Paulo, para a distribuição de leite em pó a alunos da rede municipal. Também houve um aquecimento na entrega de encomendas em geral, apesar da crise. "O mercado doméstico explica os bons números do primeiro quadrimestre", diz Custódio, ainda confiante em uma alta de 10% na receita total da ECT sobre 2008, com a melhora do cenário econômico no segundo semestre.

Em 2007, deixando para trás a tendência de resultados desfavoráveis, os Correios voltaram ao azul. No ano passado, registraram pelo segundo período consecutivo lucro com as atividades postais, que chegou a R$ 120 milhões. Os seguidos desempenhos positivos chamaram a atenção de empresas de outros países, estatais e privadas. A USPS, Correio dos Estados Unidos, que é uma empresa pública, demonstrou forte interesse no "Exporta Fácil", um dos serviços mais bem-sucedidos da estatal brasileira, que permite a exportação de produtos com valor de até US$ 50 mil.

Custódio, um executivo mineiro egresso da Caixa Econômica Federal, chegou à estatal após o fim da CPI dos Correios e vem tentando dar um caráter totalmente técnico à gestão, apesar de a maioria dos cargos de diretoria e de confiança serem da cota do PMDB, principal aliado do governo Lula.

Recentemente, a Infraero profissionalizou a gestão. Dos mais de 100 assessores em cargos comissionados, quase todos afilhados políticos de parlamentares, sobraram 12. Custódio admite que a ECT ainda não está preparada para corte semelhante. Sua maior preocupação, no momento, é elaborar um modelo de negócios para o futuro dos Correios. Um grupo interministerial, com representantes da estatal, da Casa Civil e dos ministérios das Comunicações, Planejamento e Fazenda, trabalha no assunto e está perto das conclusões.