Título: Lula e Chávez adiam, de novo, acordo sobre refinaria
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2009, Brasil, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não chegaram a acordo sobre a parceria entre a Petrobras e a empresa petrolífera venezuelana PDVSA na Refinaria Abreu e Lima, no porto de Suape, em Pernambuco, durante encontro realizado ontem em Salvador (BA).

A decisão de como será a parceria foi adiada por mais 90 dias. As dificuldades para chegar a um acordo definitivo foram discutidas em uma reunião a portas fechadas, mas o conteúdo vazou para os jornalistas, porque um microfone usado para traduções simultâneas foi deixado ligado no local.

Um dos pontos de discórdia entro os dois países é o preço a ser pago pela Venezuela pelo petróleo extraído do local. O outro são os altos custos de investimento e, o terceiro, a forma que será feita a comercialização dos produtos - a Venezuela quer comercializar no Brasil, mas isso seria prerrogativa da Petrobras.

Por enquanto, está acordado que a Petrobras terá 60% de participação na refinaria, e PDVSA ficará com 40%, e que ambas dividirão proporcionalmente os investimentos de US$ 4,5 bilhões necessários ao projeto. Até agora, porém, só o governo brasileiro investiu na obra.

Por meio do sistema de som, foi possível identificar a decepção de Chávez. Ele lamentou que os dois países não tenham sido capazes de fazer um acordo. "Confesso minha frustração, mas a culpa é dos dois países, que não foram capazes de chegar a um acordo". A conversa revelou que, a princípio, a Petrobras está querendo preços mais baratos para o petróleo venezuelano que seria usado na refinaria. "Tem que ser o preço de mercado. No mundo inteiro funciona assim", disse Chávez ao presidente brasileiro.

"Se eu conseguir eleger a Dilma, eu vou ser o presidente da Petrobras e você, [Sérgio] Gabrielli [presidente da Petrobras], vai ser meu assessor, aí o acordo sai", disse Lula a Chávez, em tom de brincadeira.

Chávez afirmou ainda que as empresas brasileiras estão a salvo das nacionalizações que têm sido efetuadas na Venezuela nos últimos meses. "Estamos em fase de nacionalização de empresas no país. Menos as brasileiras", disse. O venezuelano disse a Lula, em tom bem humorado, que tentou convencer Emilio Odebrecht a abraçar o socialismo, mas o empresário brasileiro recusou a proposta.

A declaração de Chavez, de que não estatizaria empresas brasileiras, caiu mal entre os empresários argentinos. Na sexta-feira, o governo venezuelano anunciou a estatização de três empresas do grupo argentino Techint. Ontem, a União Industrial Argentina (UIA) divulgou nota oficial, após reunião extraordinária da direção da entidade, pedindo a revisão da incorporação da Venezuela no Mercosul. A entrada do país no bloco já foi aprovada pela Argentina e Uruguai, falta a aprovação dos parlamentares do Brasil e do Paraguai.

Na nota, eles dizem que o "governo venezuelano" não cumpre com as condições básicas para que um país se incorpore ao Mercosul, de acordo com o Tratado de Assunção. Estas condições seriam políticas macroeconômicas coordenadas e complementação dos diferentes setores da economia. (Agências noticiosas. Colaborou Janes Rocha, de Buenos Aires)