Título: Setores demitem e outros contratam no bimestre
Autor: Vera Saavedra Du
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2005, Brasil, p. A3

O mercado de trabalho está refletindo de maneira contraditória os efeitos da desaceleração da produção industrial e da valorização do câmbio. Setores como o de calçados e têxtil contabilizam demissões neste início de ano. Ao mesmo tempo, a indústria de alimentos começou bem e aposta em melhora mais consistente a partir de março. As autopeças anunciaram contratação de 2,6 mil funcionários. O ramo de móveis sentiu o baque, mas dá sinais de recuperação. Na indústria alimentícia, foram gerados 3,8 mil novos postos de trabalho em janeiro, o que representou uma variação de 0,4%, segundo dados da Abia, associação que representa o setor. Também nesse mês a produção cresceu 0,5% na comparação com dezembro, em termos dessazonalizados. Apesar da alta na produção, as vendas recuaram 2,4%. No entanto, indicadores preliminares de fevereiro apontam que a queda do mês anterior foi pontual e a tendência é de recuperação. Amílcar de Almeida, gerente de economia da Abia, descarta a possibilidade de demissões. "A partir de março as vendas tendem a reagir com maior consistência e o nível de emprego deve acompanhar essa melhora", diz. A indústria de máquinas e equipamentos também não acredita na redução do quadro de empregados neste semestre. Para o presidente da Abimaq, entidade que representa o setor, as demissões ainda estão concentradas no ramo de máquinas agrícolas e equipamentos para irrigação. Em janeiro, o setor como um todo contratou cerca de 680 funcionários na comparação com dezembro, e mais de 19 mil sobre o mesmo mês de 2004. Para o ramo de móveis, o momento é de cautela. Segundo Domingos Rigoni, presidente da Abimóvel, o setor está em dificuldade. "Neste início de ano uma fábrica com 800 funcionários foi fechada no Rio Grande do Sul", conta Rigoni. O setor teve aumento de custo entre 10% e 15% e não consegue repassar preços ao mercado externo. Ainda assim, as exportações estão em alta, e março já dá sinais de melhora, o que pode impedir as demissões no setor. "Vamos perder lucratividade, mas não podemos abandonar os clientes", diz. A indústria de calçados diz que já demitiu cerca de 4 mil funcionários até fevereiro e deve dispensar mais nos próximos meses. Empresários do ramo têxtil também alertam para o risco de demissões. Mas, segundo dados do governo, em janeiro o setor contratou mais de 3,6 mil em todo o país.