Título: Petrobras reduz gás para novas térmicas
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 27/05/2009, Empresas, p. B7

O primeiro leilão de energia nova deste ano, que acontecerá em agosto, tende a ter um número restrito de projetos termelétricos movidos a gás natural, se depender da Petrobras. A diretora de gás e energia, Graça Foster, diz que a empresa não vai assumir os riscos do mercado à vista e não vai fornecer contratos firmes de suprimento de gás para viabilizar estes empreendimentos. Com isso, o governo federal terá que lidar novamente com oferta de térmicas movidas a óleo combustível, a exemplo do que aconteceu no ano passado.

O principal motivo do desinteresse da Petrobras é o preço. Graça diz que a redução do teto do custo variável unitário do leilão de A-3 (com entrega de energia a partir de 2012) de R$ 250 por MWh para R$ 200 por MWh inviabilizou os contratos. A medida foi tomada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em meados deste mês, por entender que há maior oferta de gás no mercado e também porque existe a expectativa de que neste ano sejam leiloados 1,5 mil megawatts (MW) em projetos hídricos no leilão com entrega em 2014 (A-5).

O grande problema vislumbrado pela Petrobras é que esta redução de preço não tomou como base o comportamento dos preços do gás no mercado internacional. "A Petrobras paga um prêmio para ter a pronta entrega de gás a medida em que as térmicas forem acionadas", diz Graça. "E não vamos assumir esse risco".

Uma das soluções que está sendo proposta a empreendedores, segundo Graça, é fechar um contrato de Gas Natural Liquefeito (GNL), hoje importado pela Petrobras, apenas de transporte e logística de entrega. Assim, o próprio dono do projeto é que assumiria o risco dos preços no mercado à vista.

O problema para a Petrobras é que a empresa é obrigada a manter gás suficiente para a qualquer momento, em função de uma decisão do Operador Nacional do Sistema (ONS), atender a demanda de todas as termelétricas movidas a gás do país. Como este foi um ano de chuvas abundantes, a maior parte do tempo a Petrobras não teve de fornecer o insumo. Mesmo durante o mês de maio, houve dias em que a Petrobras forneceu gás para gerar 350 MW e no outro 3.500 MW, segundo Graça contou ontem no seminário Gas Summit, que aconteceu em São Paulo.

A diretora da Petrobras entende que essa disponibilidade do gás precisa estar no preço do fornecimento futuro para as térmicas. Isso porque considera que hoje ainda é possível contingenciar os 20 milhões de metros cúbicos que a total capacidade instalada dos projetos termelétricos requerem. Mas em cinco anos, essa exigência será de 50 milhões de metros cúbicos e, se as térmicas não estiverem sendo despachadas, será difícil fazer corte de produção suficiente. Ou a Petrobras terá de ficar muito exposta ao mercado à vista. Em 2017, só para térmicas serão usados 74 milhões m3 por dia.

Mas a empresa e o próprio Ministério de Minas e Energia (MME) apresentam projeções que mostram que não irá, como no passado, faltar gás. Oferta existe, o problema é só uma questão de preço. No ano passado, o governo teve de aceitar cerca de 3 mil MW em projetos termelétricos movidos a óleo combustível, já que foi praticamente a única oferta do leilão. Este ano a EPE e o ministério propuseram que estes projetos fossem modificados para gás, mas a Petrobras já disse que não vai garantir o abastecimento para todas as usinas a óleo vendidas em 2008.