Título: Debêntures voltam a decolar
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Fonte: Valor Econômico, 27/05/2009, Finanças, p. C1

O mercado de debêntures voltou a se aquecer. Uma megaemissão da operadora de telefonia Oi de R$ 2,6 bilhões, encerrada esta semana, fez dobrar o volume de operações no ano, para R$ 4,5 bilhões. Com a melhora do cenário e a necessidade de captar recursos, várias empresas, como Gol, Ultrapar e Elektro, preparam novas emissões, que juntas devem somar mais de R$ 2,2 bilhões.

A queda dos juros básicos para patamares históricos de baixa tem estimulado a procura por debêntures, que pagam rentabilidade muito mais alta que a Selic. Fundos de pensão, gestoras de recursos e agora até pessoas físicas (que ficaram com quase R$ 800 milhões dos papéis da Oi) têm saído à procura desses papéis.

"A emissão da Oi sinaliza que o mercado está reabrindo. É o que estamos assistindo nesse momento", afirma Paulo Sampaio, superintendente geral da Associação Nacional das Empresas do Mercado Aberto (Andima).

Nas próximas semanas, a Ultrapar prepara o lançamento de R$ 1,2 bilhão; a companhia aérea Gol vai colocar R$ 400 milhões e a Multiplan estuda emitir R$ 100 milhões. Na média, a rentabilidade das debêntures tem oscilado na casa dos 120% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), indicador que mede a taxa dos empréstimos entre bancos. "É um excelente investimento", diz Sampaio. Antes da crise, a taxa média ficava nos 107%.

"Estamos olhando esse mercado. Com certeza o papel privado é um componente para melhorar a rentabilidade", afirma Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp, maior fundo de pensão privado do país, com patrimônio de R$ 15,4 bilhões. Cerca de 5% da carteira do fundo estão em papéis privados e o executivo afirma que essa fatia pode aumentar.

Simino, porém, diz que nem tudo interessa. Com a crise, a fundação apertou os critérios de avaliação para comprar papéis de empresas e bancos, ficando mais seletiva. "Estamos vivendo em um outro cenário. Não dá para comprar um papel com base no cenário de 12 meses atrás."

Além disso, a Funcesp descarta avaliar emissões muito pequenas. Pelas regras, uma fundação pode comprar até 25% de uma oferta. O executivo acha que só faz sentido entrar em uma operação, por causa do tamanho da Funcesp, se for para ficar com um volume de R$ 80 milhões ou R$ 100 milhões. Em ofertas menores, o fundo não conseguiria levar essa quantia.

Pelo lado dos fundos de investimento, Andre Schibuola, gestor da Precision Asset Management, especializada em renda fixa, avalia que as debêntures e outros títulos privados são uma forma de aumentar a rentabilidade das aplicações, abalada pela queda da Selic. No caso da Oi, 42% dos compradores dos papéis foram fundos de investimento.

O diretor de tesouraria da Oi, Tarso Rebello, diz que a operação, uma das maiores já feitas no país no mercado de dívida, teve sucesso porque o papel tinha baixo risco de crédito - o rating foi "AAA", o mais alto das agências de classificação de risco - e a rentabilidade atrativa (115% e 120% do CDI, dependendo da série). "O investidor procura um investimento seguro."

A Oi procurou o mercado de dívida como uma forma de se financiar. "Enxergamos oportunidade (no mercado local de dívida) e buscamos essa alternativa. O mercado externo vem de um processo de ajuste, correção de preços e volatilidade", afirma Rebello, destacando ainda que a operadora tem receitas em reais e é mais interessante captar em moeda local.

O desafio da Oi, em um momento de maior incerteza entre os investidores, foi fazer uma operação grande em um mercado sem histórico desse tipo de oferta. São raros os casos de emissões de debêntures de empresas (excluindo as leasings) maiores que R$ 1 bilhão nos últimos anos.

Com o aperto do crédito, o mercado de dívidas virou uma alternativa de captação. O movimento começou com as notas promissórias, que são papéis de curto prazo. Agora, começa com maior força nas debêntures, que estão saindo com prazo médio de três anos - ainda abaixo dos cinco ou sete anos do período pré-crise. No caso da Oi, além das debêntures, a empresa recorreu ao mercado externo, lançando bônus de US$ 750 milhões no mês passado, e a operações de financiamento em condições mais favoráveis com seus fornecedores.