Título: Governo age para isolar oposição na CPI
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 26/05/2009, Política, p. A10

Apesar da falta de entendimento entre o governo federal e o PMDB sobre a definição do comando da CPI da Petrobras, os líderes dos partidos devem indicar hoje seus representantes para a comissão, no último dia previsto pelo regimento da Casa para a nomeação. O impasse continuou mesmo depois da reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de dois ministros de seu governo com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e o líder do PTB na Casa, Gim Argello (DF). Preocupado com o desgaste político que poderá sofrer, o governo defendeu que a oposição seja isolada na CPI. O governo quer impedir que os opositores tenham cargos de comando e de decisão sobre a condução das investigações.

Recém-chegado de uma viagem ao exterior, o presidente Lula teve uma audiência ontem, pela manhã, com o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Em seguida, conversou reservadamente por cerca de 40 minutos com Renan Calheiros. Segundo interlocutores do pemedebista, o presidente expôs sua preocupação com a imagem da Petrobras e com possíveis prejuízos financeiros da estatal. Gim Argello e os ministros de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e o de Comunicação, Franklin Martins, participaram do fim do encontro. Lula teria dito aos parlamentares que não vai interferir diretamente na condução dos trabalhos da CPI, mas pediu cautela para não prejudicar a estatal.

Depois da reunião, o ministro de Relações Institucionais defendeu que os governistas, que detêm oito das onze vagas titulares na comissão, fiquem com a presidência e a relatoria da CPI. "O modelo que eu vi no Senado esses anos todos, principalmente no governo passado, é que a maioria sempre escolhia a presidência e a relatoria", disse Múcio Monteiro. Segundo o ministro, a preocupação do presidente é que não haja uma inibição dos investimentos da Petrobras. Múcio também negou que Renan tenha pedido para o PMDB aumentar sua participação no governo federal, com oferta de cargos, em troca de manter a legenda alinhada ao Palácio do Planalto na CPI.

O ministro negou que Lula tenha feito um apelo para o PMDB manter-se alinhado ao Palácio do Planalto durante as investigações, mas admitiu que o governo tem "consciência da necessidade do PMDB´´ na CPI - já que o partido vai indicar a maioria dos oito senadores titulares da comissão.

Até a noite de ontem, os líderes partidários não haviam acertado quais serão suas indicações. Integrantes da base governista atribuem a demora na definição à falta de entendimento entre Renan Calheiros e o líder do PT, Aloizio Mercadante.

No PMDB, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) já se mostraram dispostos a integrar a CPI. Jucá é cotado para assumir a relatoria, mas Renan nega já ter definido os nomes dos peemedebistas que vão integrar a comissão.

A oposição não aceita ficar de fora do comando da CPI e PSDB e DEM reivindicam a presidência. O nome mais cotado para o cargo, a que boa parte dos governistas não se opõe, é o de Antonio Carlos Magalhães Junior (DEM-BA), mas o senador enfrenta resistências entre petistas, que contestam a presença de um integrante do DEM no comando dos trabalhos.

Ontem, o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral (PMDB), disse temer que a CPI da Petrobras seja usada eleitoralmente. "Qualquer desvio em uma empresa deve ser averiguado. Mas acho que o Estado oferece instrumentos de investigação sem o espetáculo da CPI", disse ele depois de almoço com empresários em São Paulo. "O meu temor é que a CPI se torne algo pré-eleitoral que descambe para o sensacionalismo político." O governador descartou a possibilidade de concorrer à Vice-Presidência na chapa do PT nas eleições de 2010. Cabral disse que será candidato à reeleição.

No Rio, o ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou que a CPI para investigar a Petrobras representa o "adiantamento" do ambiente eleitoral. "Tomara que seja uma CPI técnica, séria, profunda, apresentando resultados para promover retificações ou correções", ressaltou Genro. "Que não seja um palco iluminado para fazer bravata eleitoral", acrescentou. "A Petrobras é do Estado brasileiro e está tendo um papel fundamental nesse processo de resistência à crise", frisou. (Colaborou Rafael Rosas, do Valoronline)