Título: Recessão encerrou maior ciclo de crescimento em 30 anos
Autor: Grabois , Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 28/05/2009, Brasil, p. A4
A economia brasileira entrou em recessão no quarto trimestre do ano passado e permaneceu em declínio no primeiro trimestre do ano, segundo o recém-criado Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Antes da recessão, o Brasil havia passado pelo maior ciclo de crescimento já registrado desde o início dos anos 80, ao apresentar expansão acumulada de 29,9% em 21 trimestres seguidos, entre o terceiro trimestre de 2003 e o terceiro trimestre de 2008.
O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre só será divulgado no dia 9 de junho, mas o comitê considera que o período de seis meses encerrado em março apresentou de fato recessão com base em números já divulgados relativos a emprego, renda, vendas do varejo e produção industrial.
O comitê não quis fazer previsão para o segundo trimestre, mas um de seus componentes, o economista Regis Bonelli (ex-Ipea e atualmente no Ibre/FGV), questiona a hipótese de o país ter atingido o fundo do poço no primeiro trimestre. "Não ficaria surpreso se o segundo trimestre for o fundo do poço. Os dados mostram, por exemplo, recuperação muito fraca da indústria e intenção de investimentos baixa", afirmou Bonelli.
Marcelle Chauvet, especialista em formatar ciclos econômicos da Universidade da Califórnia e relatora do estudo, ressalta que após a estabilização econômica, em 1994, nenhuma das quatro recessões observadas até 2003 no Brasil durou mais do que cinco trimestres seguidos. A economista, entretanto, preferiu não projetar a duração da recessão iniciada no último trimestre de 2008. "Está bem claro que as recessões estão menores, mas não podemos prever qual a sua duração a partir do último trimestre de 2008", disse. Marcelle, contudo, é autora de um trabalho acadêmico que mostra que o Brasil está menos suscetível às crises externas.
João Victor Issler, economista da EPGE/FGV, é contrário à percepção de alguns economistas segundo a qual o efeito recessivo da crise americana sobre o Brasil ficou concentrado na indústria. "Apesar da queda brusca da indústria, em outros segmentos já se observa queda também", afirmou.
Marcelle ressalta que, no modelo adotado para criar o Codace, a definição de recessão não é apontada apenas por dois trimestres seguidos de queda no PIB, como parte dos economistas prefere classificar tecnicamente a situação, mas pelo conjunto de uma série de indicadores. "Nos Estados Unidos, duas quedas consecutivas não são usadas como parâmetro para definir recessão. Pode haver crescimento do PIB dentro de um período recessivo", disse, lembrando que a atual recessão nos Estados Unidos, por essa metodologia, começou no fim de 2007, quando o PIB ainda registrava alta.
No Brasil, a mais longa recessão registrada desde 1981 ocorreu entre o segundo trimestre de 1989 e o primeiro trimestre de 1992, período no qual o recuo acumulado do PIB foi de 0,9% em 11 trimestres. Já a recessão mais profunda foi do primeiro trimestre de 1981 ao primeiro trimestre de 1983, quando houve queda acumulada do PIB de 8,5% ao longo de nove trimestres.
O levantamento não significa que o Codace esteja necessariamente prevendo em uma queda do PIB brasileiro no primeiro trimestre deste ano, apesar do ciclo recessivo ter que durar ao menos seis meses para ser considerado como tal, diz Marcelle. "Mesmo que o PIB do primeiro trimestre seja de alta, não vamos mudar de opinião", garantiu Issler. Coordenado pelo ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, o Codace conta com sete membros independentes e segue o modelo do Comitê de Datação dos Estados Unidos, criado em 1978 pelo National Bureau of Economic Research (NBER). (*Do Valor Online)