Título: Presidente sobrevive, mas ganha só trégua na Bolívia
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2005, Internaional, p. A9
Carlos Mesa continuará como presidente da Bolívia, mas deve ganhar apenas uma breve trégua na intensa disputa política que ameaça a governabilidade do país. O Congresso boliviano rejeitou na noite de terça o pedido de renúncia de Mesa, de 51 anos. Mas, um dia depois, grupos indígenas voltaram a bloquear as principais estradas bolivianas e prometeram uma "batalha cara-a-cara" com o presidente. A aposta de Mesa era de que a rejeição de sua renúncia acabaria gerando uma onda de apoio a ele, trazendo de volta à calma os manifestantes que tomam as ruas do país há cerca de duas semanas protestando sobretudo contra as políticas do governo para atrair investimentos estrangeiros para o setor de energia. Entretanto os líderes da maioria indígena, furiosos com o que chamam de saque das riquezas naturais da Bolívia, se uniram para dizer que a atitude de Mesa apenas dará mais intensidade aos protestos que paralisam partes importantes do país. "Nós vamos agora para uma batalha cara-a-cara contra o governo de Mesa", disse Evo Morales, líder do Movimento ao Socialismo (MAS), segunda força no Congresso. As imagens das TVs bolivianas mostravam ontem estradas interditadas, com mulheres indígenas usando seus tradicionais xales púrpuras e chapéus coco sentadas no meio da pista. Morales disse que os manifestantes pretendem continuar pacíficos, mas mantendo a pressão sobre Mesa. "O presidente mentiu para o povo boliviano. O problema não está nos bloqueios de estradas, e sim na lei de energia que Mesa quer nos impor, favorecendo as multinacionais. É por causa dela que ele nos chantageou com sua renúncia", disse. Os sindicatos se juntaram a Morales e a outros líderes indígenas das regiões que tradicionalmente plantam coca, assinando um acordo para continuar os protestos. Muitos dos líderes da oposição não querem que Mesa renuncie, mas exigem mais participação nos rumos econômicos do país. Mas o presidente Mesa, usufruindo de altos índices de popularidade, disse que vai continuar com seu planejamento energético e que não teme os protestos. "Não posse ter medo, pois sabemos que 99% dos bolivianos são contra os bloqueios", disse Mesa. O presidente aparentava cansaço, após uma noite de comemoração com seus partidários. Do lado de fora do Congresso, milhares de simpatizantes do presidente comemoravam o resultado da votação com bandeiras da Bolívia. O Congresso rechaçou a renúncia por unanimidade. A votação, que ocorreu por aclamação e mãos levantadas, não durou mais que cinco minutos. O resultado era esperado, apesar de o MAS, que é o maior partido de oposição, ter ameaçado votar a favor da renúncia. Morales quer que o governo aumente os royalties pagos por empresas estrangeiras como Petrobras e BP, para 50%. Atualmente eles são cerca de 18%.