Título: Avião desaparece com 228 passageiros
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2009, Brasil, p. A4

O desaparecimento sobre o oceano Atlântico do Airbus 330-200 da Air France, com 228 pessoas a bordo, que fazia o voo 447 do Rio de Janeiro a Paris na noite de domingo pode transformar-se em um dos mais trágicos mistérios da história da aviação (mesmo que a aeronave ou destroços sejam encontrados) pela dificuldade em estabelecer as causas do acidente. A primeira hipótese considerada pela empresa para o desaparecimento - o avião ter sido atingido por um raio durante passagem por violenta tempestade - , é praticamente descartada por especialistas do Brasil e da Europa. Esse foi o primeiro grande acidente com um avião deste modelo.

Em visita a familiares de passageiros na tarde de ontem no aeroporto Charles de Gaulle, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, praticamente descartou a possibilidade de haver sobreviventes. No começo da noite de ontem o vice-presidente José Alencar visitou familiares de passageiros no aeroporto do Rio a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, em viagem à América Central, distribuiu nota de pesar e determinou a intensificação das buscas.

A única pista para explicar o ocorrido antes do encontro da caixa-preta do avião (uma hipótese considerada pouco provável por especialistas), é uma mensagem automática do avião dando conta de uma pane elétrica a bordo, associada a uma despressurização da cabine. No Brasil, a Air France montou dois centros de atendimento a familiares dos passageiros do voo, um no próprio aeroporto Tom Jobim e outro em um hotel da Barra da Tijuca (zona oeste). Também foram montadas salas de atendimento no Charles de Gaulle, em Paris.

Até a noite de ontem nenhum indício do avião havia sido encontrado pelos aviões da Aeronáutica que formaram equipes de busca desde o amanhecer da segunda-feira. Hoje chegam ao local navios da Marinha. O avião saiu do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) com 216 passageiros e 12 tripulantes a bordo às 19 horas de domingo e fez seu último contato com o sistema de controle de voo brasileiro às 22h33, quando estava sobre o Atlântico, a 565 quilômetros de Natal (RN). Além do Brasil, pelo menos França e Espanha participam diretamente das buscas, mas o governo francês pediu ajuda aos Estados Unidos para procurar a aeronave com auxílio de satélites. Oito aviões brasileiros realizaram buscas ontem, e elas continuariam à noite

Um piloto da TAM, que fazia a rota inversa à do Airbus A330, da Air France, relatou que viu pontos de incêndio no mar, na região onde houve o último contato do avião desaparecido. De acordo com o Centro de Comunicação da Aeronáutica, a informação não chegou a ser confirmada pelos responsáveis pela busca na região controlada por Dacar (capital do Senegal). No entanto, o subchefe do Centro de Comunicação da Aeronáutica, coronel Jorge Amaral, confirmou o relato: "Houve a informação de que o piloto de uma aeronave da TAM, ao sobrevoar a região, depois do ponto provável de desaparecimento do avião da Air France, cinco a dez minutos antes de entrar no espaço aéreo brasileiro, ainda no espaço aéreo controlado por Dacar, viu vários pontos laranja sobre o mar e achou muito estranho. Ao chegar ao Brasil, soube do desaparecimento [do avião da companhia francesa] e disse que achava que aquilo eram pequenos pontos de incêndio no mar. Dacar não confirmou nada."

De acordo com o diretor-geral da Air France, Pierre-Henry Gourgeon, o acidente aéreo "ocorreu na metade do caminho entre as costas brasileira e africana, numa zona delimitada em algumas dezenas de milhas náuticas aproximadamente " . Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), a área de busca compreende aproximadamente 120 quilômetros quadrados.

A diretora geral da Air France-KLM no Brasil, Isabelle Birem, disse ontem os tripulantes da aeronave eram "muito experientes". Segundo informações da empresa, o comandante tinha 11 mil horas de voo, sendo 1,7 mil horas no Airbus A330/A340. Entre os co-pilotos, um acumulava 6,6 mil horas, sendo 2,6 mil no A330, e o outro possuía três mil horas, sendo 800 no A330. A executiva também disse que não tinha notícias de problemas na aeronave anteriores ao seu desaparecimento. A última visita de manutenção em hangar do A330 foi em 16 de abril deste ano, mas a Air France não esclareceu que trabalho foi feito na aeronave.

A divulgação da lista oficial de passageiros e tripulantes não havia sido feita até às 22h30 de ontem porque, pela legislação internacional, ela só pode ocorrer após os familiares de todos que estavam a bordo terem sido avisados. Havia no avião pessoas de 32 países, sendo 58 brasileiros e 61 franceses. O número de brasileiros a bordo foi objeto de controvérsias durante todo o dia de ontem. Inicialmente a Air France informou que seriam 80, corrigindo depois. Já ontem à noite a Agência Nacional de Aviação civil (Anac) admitia um total de 57 brasileiros a bordo, sendo 56 passageiros e um tripulante.

O desaparecimento abalou o comando brasileiro de duas das maiores multinacionais que operam no país, ambas com sede no Rio. Entre os 216 passageiros e 12 tripulantes quer desapareceram com a aeronave estavam o carioca Luiz Roberto de Souza Anastácio, 50, presidente para a America do Sul da francesa Michelin, e Erich Heine, presidente do Conselho de Administração da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), controlada pela alemã ThyssenKrupp.

O presidente Lula disse no início da tarde, em El Salvador, "lamentar profundamente" o desaparecimento do avião da Air France. Em entrevista, Lula disse que sua rápida conversa por telefone com o colega francês, Nicolas Sarkozy, foi uma "troca de condolências". Como a aeronave ainda não foi localizada, Lula disse que, "como cristão, fica na torcida para que não tenha acontecido o pior". (Com agências noticiosas, e colaboram Assis Moreira, de Genebra, Roberta Campassi, de São Paulo, a Rafael Rosas, do Valor Online)