Título: Cuba adota medidas de austeridade para enfrentar a crise
Autor: Frank , Marc
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2009, Internacional, p. A10

Entraram em vigor ontem medidas de austeridade impostas pelo governo cubano para tentar lidar com os blecautes e a falta de reservas internacionais.

As medidas se seguem a duas semanas de advertências do governo de que não conseguiria dar conta da crescente demanda de eletricidade. A escassez de reservas forçou as autoridades a reestruturar suas dívidas e a suspender os pagamentos a empresas estrangeiras.

Cuba, como outros países caribenhos, foi duramente atingida pela crise financeira internacional. Suas exportações de commodities, principalmente de níquel, diminuíram, e os investimentos estrangeiros tiveram uma forte diminuição. O país também está se recuperando de três furacões que o atingiram no ano passado e que causaram danos estimados em mais de US$ 10 bilhões.

Todos os governos provinciais e as fábricas terão de diminuir o consumo de energia em pelo menos 12% ou terão cortes programados de energia. O setor elétrico é dependente da geração térmica.

O setor de varejo e muitos dos escritórios governamentais terão de deixar os aparelhos de ar condicionado desligados até as 13h30. Terão ainda de manter luzes apagadas e desligar seus freezers por pelo menos duas horas por dia.

No setor de transporte, o número de ônibus foi cortado e os trens entre Havana e as províncias foram reduzidos em no mínimo 50%.

Foram cortadas as refeições dos acompanhantes de doentes hospitalizados e os lanches servidos aos funcionários públicos no meio da tarde, uma tradição cubana.

As medidas de austeridade lembram os tempos difíceis que se seguiram ao colapso da União Soviética, em 1991, que resultou na perda do subsídio anual de US$ 5 bilhões vindo de Moscou.

"Todos estão preocupados e especulando sobre o quão difícil as coisas ficarão. Os blecautes voltaram", disse um morador de Havana que trabalha no setor elétrico.

Um empresário americano que vende produtos alimentícios para o governo cubano graças a uma exceção do embargo imposto por Washington disse que "eles [as autoridades cubanas] cortaram as encomendas em mais de 50% pelo resto do ano".

O ministro do Planejamento cubano, Marino Murillo, anunciou recentemente a diminuição da previsão de crescimento neste ano de 6% para abaixo de 2,5%. Economistas locais acreditam, entretanto, que o crescimento cubano deve ficar em torno de 1%, em linha com os outros países da região.