Título: Velocidade excessiva pode ter influenciado queda do Airbus
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2009, Brasil, p. A6
Investigadores estão adotando provisoriamente uma teoria segundo a qual velocidade excessiva - possibilidade causada por pane em equipamentos - pode ter contribuído para a queda do Air France Airbus A330 no Atlântico, no último domingo, segundo duas autoridades no setor bem informadas sobre os detalhes.
Os avanços na investigação do acidente com o voo 447 da Air France acontecem ao mesmo tempo em que a Airbus se prepara para divulgar uma orientação lembrando as companhias aéreas em todo o mundo a seguir procedimentos predeterminados quando os pilotos suspeitarem de que seus indicadores de velocidade da aeronave (em relação ao ar) não estejam funcionando corretamente, segundo essas autoridades. O comunicado da Airbus, que era esperado para ontem, seria a primeira indicação específica de que os investigadores suspeitam que problemas com os indicadores de velocidade da aeronave podem ter sido o primeiro estágio de uma série, em cascata, de panes elétricas e mecânicas a bordo do jato Airbus, com 228 pessoas a bordo.
A orientação da Airbus provavelmente não mencionará novos detalhes sobre o acidente. Autoridades do setor enfatizaram que ainda é cedo demais para tirar conclusões definitivas a partir dos escassos dados disponíveis, e teorias sobre a queda poderão mudar substancialmente nos próximos dias ou semanas.
Nesse cenário preliminar - que ainda está sendo detalhado e poderá ser modificado após análises mais aprofundadas - sensores de velocidade da aeronave em relação ao ar denominados "tubos de Pitot" podem ter congelado à medida que o avião voava através de uma feroz tempestade - com possibilidade de violentos ventos ascendentes e granizo -, segundo as fontes. Esses dispositivos, com recursos em duplicata, e que devem ser mantidos aquecidos, são a principal maneira de os pilotos saberem a que velocidade sua aeronave está voando.
Segundo pessoas familiarizadas com a linha de raciocínio dos investigadores, as leituras possivelmente errôneas dos instrumentos podem ter induzido a tripulação a, erroneamente, incrementar o empuxo dos dois motores do avião e aumentar a velocidade, enquanto atravessavam o que pode ter sido uma extrema turbulência. Por essa razão, os pilotos podem ter, inadvertidamente, submetido o avião a crescentes tensões estruturais.
Se algum problema elétrico resultou no congelamento dos tubos, os pilotos podem ter logo visto fortes quedas nos indicadores de velocidade da aeronave, segundo autoridades do setor. Em circunstâncias normais, os pilotos são treinados para reduzir um pouco a velocidade quando atravessam intensa turbulência. Mas se suspeitam que as indicações de velocidade da aeronave estão incorretas, o procedimento é evitar acelerar ou desacelerar até que possam analisar o problema.
Nesta altura das investigações, segundo pessoas familiarizadas com os detalhes, especialistas em segurança da Airbus, bem como uma equipe internacional de investigadores de quedas de aeronaves, estão concentrados na ideia de que a falha nos indicadores de velocidade da aeronave dispararam uma série de eventos que provocaram um descontrole em alguns dispositivos de voo, computadores de bordo e sistemas elétricos.