Título: PT tenta anular processo de seleção de presidente da Embrapa
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2009, Política, p. A10

Insatisfeitos com a derrota de seu candidato a comandar a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), dirigentes do PT resolveram apelar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para anular o processo formal de seleção do novo diretor-presidente da principal instituição de pesquisa do país.

Membro do Diretório Nacional do PT e assessor especial do presidente do partido, Wilmar Lacerda defendeu, em carta aberta a Lula, a realização de um novo processo de escolha para o cargo, vago desde a renúncia oficial do físico Sílvio Crestana em meados de maio. O dirigente petista acusa a prevalência de critérios políticos na seleção que gerou uma lista tríplice enviada pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, ao presidente Lula. "É um verdadeiro jogo de cartas marcadas", sustenta. "Fizeram um pacto do silêncio absurdo e ninguém revela como chegaram aos nomes. O medo prevaleceu".

Ex-presidente do PT-DF e do sindicato da estatal (Sinpaf), Lacerda afirma ter "apoio pessoal" do líder da sigla na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), do líder do governo, Henrique Fontana (RS), e do presidente do partido, Ricardo Berzoini, à anulação do processo. "O Berzoini concorda que o processo deveria ser mais transparente e democrático. O Vaccarezza e o Fontana também." Procurado, Berzoini não retornou às ligações.

Um "comitê de busca" foi criado pela Embrapa para selecionar os nomes. Oito foram indicados, mas apenas três saíram ilesos da avaliação. A cobiça tem fundamento na influência da estatal. Instituições de pesquisa, entidades de classe e partidos políticos entraram na disputa pelo comando da empresa. Dona de um orçamento de R$ 1,5 bilhão para 2009, a Embrapa contratará 1,1 mil novos empregados e inaugurará quatro unidades neste ano. Mas a briga de bastidores tem paralisado as decisões na empresa. E o sindicato convocou greve geral por melhoria de salários.

Mantida sob segredo até agora, a lista tríplice enviada ao presidente Lula tem como primeira opção o atual chefe-geral da Embrapa Arroz e Feijão, Pedro Arraes Pereira. Primo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), Arraes é bem avaliado nas instâncias técnicas, mas atraiu antipatias à sua indicação por ter recebido o apoio formal da senadora Kátia Abreu (DEM-TO), atual presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). A líder ruralista é considerada inimiga nos hostes petistas. "O DEM não deveria participar desse processo, ainda mais articulado com o ministro da Agricultura", diz Lacerda. "Não queremos que os interesses deles prevaleçam na Embrapa. Se o PT não pode indicar, porque vamos deixar o DEM indicar?"

Mesmo negando a intenção de indicar um nome, o PT sonha em emplacar o atual diretor-executivo José Geraldo Eugênio de França no cargo. Vinculado ao PSB de Eduardo Campos, ele teria apoio da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e do ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. "O Geraldo tem o melhor perfil. Não tem relação com o PT, mas é do PSB. Dá continuidade ao governo, está há cinco anos na Embrapa, tem PhD e foi secretário de Estado (PE). Não decepcionaria ninguém nem seria maculado pelo interesse da grande produção", diz Wilmar Lacerda. A lista tríplice enviada a Lula tem ainda os nomes do ex-diretor Dante Scolari e do ex-chefe da Embrapa Aves e Suínos, Élsio Figueiredo. No processo de seleção, além de Geraldo Eugêncio, foram excluídos Lúcio Brunale, Hélio Tollini, Maria Ribeiro e José Fernando Protas.

Polêmico, Wilmar Lacerda foi envolvido na CPI do Mensalão por ter sacado dinheiro depositado pelo publicitário Marcos Valério na conta do partido. Em sua cruzada, o dirigente petista afirma que os funcionários concordam com ele. O Sinpaf, porém, rejeita fazer indicações. "Lamento que ele use nome do sindicato, porque é só um filiado. Foi presidente, tem expressão política, mas não pode representar o sindicato porque não tem esse mandato", diz o presidente do Sinpaf, Valter Endres. "O sindicato não se envolve. Temos lógica diferente e não faremos gestão por cargos".

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 05/06/2009 12