Título: Dirceu e Palocci voltam a funções estratégicas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2009, Política, p. A8

O PT começa a definir hoje em encontro do campo majoritárioos nomes de seus futuros dirigentes, num movimento articulado com a sucessão presidencial e no qual duas figuras de proa do início do governo Lula - José Dirceu e Antonio Palocci - têm desempenhado um papel decisivo.

Na hipótese de o Supremo Tribunal Federal (STF) recusar a denúncia do Ministério Público contra o deputado Antonio Palocci pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o ex-ministro da Fazenda é o principal nome do PT para a disputa do governo São Paulo.

O presidente Lula acha que Palocci pode ser um forte candidato à sucessão do governador José Serra (PSDB) mesmo na hipótese de o STF determinar a abertura do processo. Mas se Dilma não puder ser candidata, o ex-ministro entra no páreo pela indicação do candidato presidencial do PT.

Improvável é a volta de Palocci ao ministério para coordenar a transição, como é cogitado no PT - para isso ele teria de deixar de ser candidato a alguma coisa em 2010. Há o receio, também, de levar para dentro de um governo em plena campanha eleitoral um o assunto negativo, caso da quebra do sigilo bancário de "um simples caseiro". Mesmo que Palocci venha a ser isentado no STF de responder a processo..

Palocci é uma das duas principais personagens do início do governo Lula que voltou a ter muito prestígio e influência no governo. Ele, por exemplo, é ouvido sobre a crise internacional mais do que admite o Palácio do Planalto. A outra personagem - embora os dois relevem sua influência - é o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que passou a ajudar Dilma na articulação política de sua candidatura ao Planalto.

Dirceu recebeu este mandato da ministra no dia em que comemorou seu aniversário em Brasília, "está voando baixo" e tem falado com todos os partidos aliados, de acordo com petistas ligados a ele. Tanto que teve um esgotamento físico, recentemente, e precisou passar um fim de semana de cama, descansando.

As opções do PT para o governo de São Paulo, em 2010, são restritas: Marta Suplicy tem dito que não quer - "e não deve", completa um dirigente -, Aloizio Mercadante tem possibilidades de viabilizar a reeleição ao Senado e o ministro da Educação, Fernando Haddad, é muito falado mas o PT não parece disposto a jogar suas fichas na candidatura: embora o programa partidário levado ao ar em maio tenha feito menção específica ao ProUni, por exemplo, o ministro não foi incluído na gravação.

Um nome a ser construído seria o do prefeito de Osasco, Emídio de Souza. Mas PT e PSB também conversam sobre a hipótese de o candidato vir a ser o deputado Ciro Gomes, o que, além de levar um presidenciável para a disputa paulista, facilitaria a composição dos dois partidos em torno de Dilma.

A reunião do campo majoritário para decidir sobre a escolha dos futuros dirigentes ocorre hoje e amanhã, em São Paulo. Em manifesto assinado por mais de 50 dos 89 deputados federais do PT, seus integrantes se comprometem a encontrar "aqueles pontos essenciais que nos unificam de modo a evitar uma disputa interna fratricida num momento tão decisivo para o país".

O nome ideal para presidir o PT, segundo os líderes partidários, seria o do chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Ele seria o único candidato, no momento, capaz de reunir as diversas tendências que compõem o partido.

O problema é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera que Carvalho se tornou "imprescindível" no cargo, após a enfermidade da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), que deve ser a candidata petista em 2010.

A opção mais forte da tendência majoritária ao nome de Gilberto Carvalho é o presidente da BR Distribuidora, o ex-senador José Eduardo Dutra. Havia dúvida se ele concordaria com a mudança, mas o ex-senador já avisou que aceita ser o candidato da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB).

Setores do governo cogitavam ontem de uma nova candidatura do assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia. Na última eleição para a direção do PT, Lula sugeriu Garcia para a presidência, mas o CNB e outros setores reagiram à indicação presidencial.

Garcia, na eleição de 2006, substituiu no cargo o presidente do PT, Ricardo Berzoini, atingido pelo escândalo dos "aloprados" - a confecção de um dossiê contra tucanos. Seu desempenho agradou geral, pois teria mostrado independência, poder de mando, além de costurar com o PMDB a aliança que permitiu a eleição de Arlindo Chinaglia para presidente da Câmara.

Depois de tudo isso, Garcia devolveu a presidência a Berzoini, isentado no caso dos aloprados, quando muita gente no PT achava que ele devia permanecer na função. Apesar disso, na sucessão de Berzoini, o assessor especial foi vetado pelo grupo majoritário do partido. O líder do PT na Câmara, Cândido Vacarezza (SP), diz que esteve recentemente com Garcia e ele não manifestou intenção de concorrer.

Carvalho é considerado "imprescindível", segundo apurou o Valor, porque a ministra Dilma Rousseff vai diminuir o ritmo de trabalho para fazer o tratamento a que está sendo submetida - a ministra faz quimioterapia para combater um linfoma -, mas também para articular e fazer sua campanha à Presidência.

O PT está fechado com Dilma - a frase cunhada no grupo majoritário: "O terceiro mandato é Dilma" - e eufórico com o desempenho atual da ministra nas pesquisas de opinião pública. Mas há discussões sobre alternativas a imprevistos, como o eventual agravamento do estado de saúde da ministra da Casa Civil.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 05/06/2009 12:25