Título: Caderneta volta a atrair investidor e capta R$ 1,8 bilhão em maio
Autor: Izaguirre , Mônica
Fonte: Valor Econômico, 05/06/2009, EU & Investimentos, p. D3

Definidas as mudanças na caderneta de poupança que valerão para o ano que vem, o investidor voltou a sentir seguro para voltar a aplicar no investimento mais tradicional do país. Após dois meses consecutivos de resgates, a caderneta encerrou maio com captação de R$ 1,880 bilhão - um valor expressivo, considerando os saques de R$ 847 milhões em março e de R$ 942 milhões em abril. No ano, entretanto, os resgates superam as aplicações em R$ 1,524 bilhão. Os dados constam do relatório mensal divulgado ontem pelo Banco Central (BC).

Em meados de maio, o Ministério da Fazenda anunciou que as cadernetas de poupança com saldo superior a R$ 50 mil passarão a pagar Imposto de Renda (IR) a partir do ano que vem. A partir desse valor, as aplicações em caderneta pagarão ou não o tributo dependendo do saldo de cada investidor e no nível da taxa Selic. Quanto menor a taxa Selic, maior será o imposto. A medida, no entanto, depende de aprovação no Congresso.

Com a medida, o governo até tentou deixar a caderneta de poupança menos atrativa em relação aos fundos de renda fixa, mas, na verdade, para valores até R$ 50 mil, a caderneta continua indiscutivelmente a melhor opção num cenário de juros baixos, inferiores a 10% ao ano. Na semana que vem, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne para discutir o nível da taxa de juros, atualmente em 10,25%. A expectativa é de que a Selic fique na casa de um dígito, pela primeira vez na história.

Num cenário de juros inferiores a 10% ao ano, só os fundos com taxa de administração inferior a 1% ao ano serão páreo para o juro anual isento, de 6,17% ao ano, das cadernetas que ficaram fora da complexa tributação prevista para começar em 2010. E isso mesmo com a prometida redução do imposto de renda sobre a renda fixa, de 22,5% para 15%.

Embora a captação de R$ 1,880 bilhão em maio represente o mais expressivo volume mensal visto em 2009, o governo entende que isso ainda não justifica reduzir a tributação de outras aplicações de renda fixa, conforme disse ao Valor o secretário de reformas econômico-fiscais do Ministério da Fazenda, Bernard Appy.

Segundo ele, a avaliação é de que o desempenho da caderneta de poupança no mês passado refletiu apenas a volta a uma situação de normalidade e não uma migração de aplicadores dos fundos de investimento. "A captação de maio está dentro dos padrões dos últimos dois anos. Não está caracterizada uma fuga de recursos de outras aplicações para a poupança", afirmou o secretário. Ele considera que a situação registrada em maio não pode ser considerada atípica, mas sim a os resgates apresentados nos meses de março e abril. Em janeiro, os saques somaram R$ 487 milhões e, em fevereiro, as aplicações superaram os resgates em R$ 751 milhões.

Bernard Appy explica que, na visão do Ministério da Fazenda, os resgates registrados em março e abril refletiram a insegurança gerada pela expectativa dos depositantes sobre as mudanças na tributação ou mesmo nas regras de remuneração da caderneta de poupança num momento em que não se sabia ainda o que o governo iria fazer a respeito da aplicação mais tradicional do país. Uma vez anunciada a decisão governamental de tributar os rendimentos da caderneta a partir de 2010 para quem tem mais de R$ 50 mil, muita gente que tinha saído dessa modalidade de aplicação voltou, acredita Appy.

O secretário de reformas econômico-fiscais do Ministério da Fazenda chama a atenção para o fato de que a captação líquida positiva em maio se aproxima do que foi liquidamente sacado na soma dos dois meses anteriores. "Esse é um sinal de que as mudanças anunciadas foram bem recebidas", disse. Segundo Appy, o governo continua atento, porém, ao risco de haver uma grande migração de recursos para a caderneta de poupança, antes da vigência da nova tributação para valores maiores - possibilidade que será maior quanto mais rápido cair a taxa básica de juros e, com ela, as taxas oferecidas pelos bancos para captar dinheiro por intermédio de outros instrumentos de renda fixa.

Enquanto a caderneta apresentou ingresso de recursos em maio, os fundos DI - que aplicam majoritariamente em títulos pós-fixados - encerraram o mês com resgates no valor de R$ 1,602 bilhão, segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). No acumulado do ano, a saída de recursos da categoria soma R$ 4,365 bilhões. Já as carteiras de renda fixa que podem aplicar em papéis prefixados tiveram captação de R$ 777,48 milhões. Vale lembrar, entretanto, que os fundos DI, de renda fixa e multimercados tiveram em maio o chamado "come-cotas" - imposto de renda pago semestralmente -, que somou R$ 2,7 bilhões.

Na Caixa Econômica Federal (CEF), que detêm 34,5% do mercado de caderneta de poupança, a captação nesse tipo de investimento somou em maio R$ 261 milhões e, somente nos três primeiros dias de junho, outros R$ 303,9 milhões. "Com a queda da Selic, a poupança fica realmente mais atrativa e, após a explicação de que nada muda neste ano na poupança mesmo para valores acima de R$ 50 mil, o investidor voltou a aplicar", avalia Fábio Lenza, vice-presidente de pessoa física da CEF. Segundo ele, apesar de a caderneta ter registrado mais resgates que aplicações em janeiro, março e abril deste ano, conforme os dados do BC, na Caixa a captação foi positiva. No ano, a poupança da Caixa acumula ingresso de R$ 1,770 bilhão até abril e saldo de R$ 97 bilhões.

O executivo diz que não houve migração de recursos dos fundos de investimento da CEF para a caderneta de poupança, dada as taxas de administração mais baixas que a média de mercado cobradas pela instituição. O banco tem fundos de renda fixa com taxa de administração de 1,5% ao ano para aplicações mínimas de R$ 5 mil e de 1,1% para valores acima de R$ 30 mil. De acordo com Lenza, a Caixa não fez no mês passado qualquer campanha de marketing para promover o investimento em poupança. A expectativa do banco é captar R$ 10 bilhões em caderneta para R$ 10,8 bilhões no ano passado.

O aumento da captação da poupança em maio foi mais em função da renda dos trabalhadores, diz Marcos Villanova, diretor de Produtos de Investimento do Bradesco. "Em janeiro, fevereiro e março os assalariados só tiveram despesas, agora eles já começam a receber a parcela do 13º salário, reduziram as dívidas e tem como guardar", diz. Além disso, uma parte dos investidores pode também ter aguardado para ver o que o governo ia fazer com a caderneta. "Pode ter um pouco disso também." Para Villanova, porém, não houve troca de fundos por poupança. "O investidor em fundo quer liquidez diária, não quer ficar preso a resgates mensais, e a diferença de rentabilidade para valores pequenos é de alguns reais apenas", diz. (Colaborou Angelo Pavini)