Título: Dutra discutirá com Lula saída em julho e solução interna para sucessão na BR
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2009, Política, p. A6

As apostas na Petrobras são de que uma possível substituição de José Eduardo Dutra, que pode deixar a presidência da BR Distribuidora para concorrer à presidência do PT, será uma solução interna, repetindo o que aconteceu quando ele deixou a presidência da Petrobras para se candidatar ao Senado por Sergipe, sem conseguir ser eleito. Na ocasião Dutra cedeu o cargo para José Sergio Gabrielli, que ocupava a diretoria financeira, abrindo espaço para Almir Barbassa, que era funcionário de carreira e ocupava a gerência executiva de finanças corporativas e tesouraria da estatal.

Contudo, é difícil imaginar que a saída de Dutra da BR e a criação de uma vaga na presidência ou mesmo uma diretoria na maior distribuidora de combustíveis do país não desperte o apetite do PMDB. Essa vaga poderia acomodar os interesses do partido depois da derrota em avançar sobre o espaço ocupado pelo geólogo Guilherme Estrella. Com a descoberta do Campo de Tupi na bacia de Santos, o primeiro de uma série de descobertas de campos gigantes, Estrella se consolidou na diretoria de exploração e produção da Petrobras como uma espécie de "senhor do pré-sal". E isso acaba com as esperanças do PMDB de ocupar a diretoria "que fura poço e acha petróleo", como ficou famosa nas palavras do ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti.

O PMDB já ocupa a presidência da Transpetro, com o ex-senador do Ceará, Sérgio Machado, e a diretoria Internacional da Petrobras, Jorge Zelada. O PT tem mais força na estatal. Além de Estrella contar com a confiança dos petistas, o partido emplacou o novo presidente da Petrobras biocombustíveis, o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, e ainda conta com Maria das Graças Forster, diretora de energia e cotada para presidir a estatal sob num eventual governo Dilma Rousseff.

O próprio Dutra acha difícil acumular o cargo na BR por causa das exigências de uma campanha pela presidência do PT como candidato da chapa "Construindo um Novo Brasil" (CNB). Dutra até brinca dizendo que o PT é um partido "esquizofrênico" porque o registro da chapa nacional acontece em junho e a eleição é só no final de novembro, o que exige quatro meses de disputa.

Essa campanha interna do partido é mais um fator que o afastaria das funções do dia-a-dia na BR. "Sendo candidato, embora não haja nenhum impeditivo, vou sair da BR em julho", disse Dutra ao Valor. Gabrielli concorda: "Se ele se inscrever e ganhar vai ter que se afastar da BR, mas isso não é para agora", diz o presidente da Petrobras, que nega veementemente que ele mesmo seja candidato a uma vaga no Senado pelo PT da Bahia.

"Não sou e nem serei candidato. Primeiro porque eu não quero. Segundo porque o meu partido, o diretório do PT na Bahia, decidiu em janeiro que só vai disputar o governo. E o candidato é Jacques Wagner. Então, isso é uma coisa que não só não quero como também o meu partido não quer", garante Gabrielli ao contestar as especulações de que pleitearia o Senado. Diz que ao deixar a Petrobras vai voltar a dar aulas na Universidade Federal da Bahia.

Já se Dutra sair da BR em julho vai apenas antecipar em dez meses uma decisão já tomada. É que o petista tinha decidido concorrer a uma vaga a deputado federal por Sergipe e por isso iria abrir mão do cargo de qualquer modo, considerando que o prazo para a descompatibilização é abril

Na sexta-feira Dutra disse que ainda precisa conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito. "Eu estou na BR por indicação dele e mesmo que haja sua concordância para eu concorrer à vaga no PT preciso conversar não só sobre o partido como também sobre a BR", explicou Dutra.

O petista conta que ouviu pela primeira que Lula tinha mencionado seu nome como alternativa ao do secretário Gilberto Carvalho há três meses. "Eu mandei um recado para o presidente dizendo que estava à disposição dele. Um tempo depois fui procurado novamente e me sondaram dizendo que não dava para trabalhar com um plano B se ele não existe", conta Dutra. "E eu aceitei".

Dutra citou como possíveis adversários internos no PT os deputados federais Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Geraldo Magela (PT-DF) e também o candidato da Mensagem ao Partido, corrente de Tasso Genro que deve lançar o deputado federal José Eduardo Martins Cardoso (PT-SP) . Ele mencionou ainda o nome da deputada federal Iriny Lopes (PT- ES) como candidata da Articulação de Esquerda. Também conta com o lançamento de candidaturas de todas as correntes minoritárias pela necessidade de marcar posição.