Título: Brasil perde US$ 25 bi com derivativos
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2009, Finanças, p. C3

As empresas brasileiras perderam US$ 25 bilhões (R$ 48,9 bilhões) com derivativos cambiais no ano passado, informa o Banco de Compensações Internacionais (BIS) em relatório sobre a atividade financeira global. Espécie de banco dos bancos centrais, o BIS nota que, embora as cifras oficiais "não tenham ainda sido divulgadas", a expectativa é de que a perda seja seis vezes superior aos US$ 4 bilhões de companhias no México.

O objetivo dos derivativos cambiais é proteger as companhias da valorização excessiva do dólar. Mas empresas como Sadia e Aracruz no Brasil ou Comercial Mexicana no México compraram um volume de derivativos bem superior às suas necessidades, visando ganhos financeiros. Elas foram surpreendidas com a forte desvalorização do real e do peso que, um mês depois da quebra do banco americano Lehman Brothers, superou 30%, provocando perdas gigantescas nos contratos.

O BIS constata que o impacto da crise na America Latina foi menos severo do que nas anteriores. Mas que "tornou aparentes novas vulnerabilidades" na região, como a exposição de empresas em derivativos que "conduziram a falências de grandes firmas e contribuiram para instabilidade cambial ou do mercado doméstico no Brasil e no México". Para o banco, a "complexidade" das transações e nenhuma informação sobre as posições das empresas em derivativos mostram "falta de transparência nesses mercados" . Segundo o banco, levantamento feito pelas autoridades concluiu que a exposição em derivativos na região trazia riscos para o sistema financeiro.

Em reunião dos principais bancos centrais do mundo em maio na sede do BIS em Basileia, na Suíça , o presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, foi o primeiro a propor uma regulação que forçará a abertura de informações no mundo todo sobre as operações de derivativos. Dois dias depois, foi a vez de o presidente americano Barack Obama anunciar endurecimento nas regras nos EUA. Para Meirelles, um sistema de monitoramento ajudará a prevenir a crise que envolveu várias empresas brasileiras no ano passado, com bilhões de dólares de prejuízos.

Em seu estudo, o BIS cita a Colômbia, onde o banco central estabeleceu, em maio de 2007, uma posição máxima de alavancagem para as instituições financeiras, medida que foi fortemente criticada, mas depois ajudou a reduzir o impacto da crise. Mostra também que o uso de hedge pela Pemex, companhia de petróleo mexicana, a ajudou a estabilizar seu orçamento para 2009.

Reiterando avaliação já feita pelo diretor-geral do BIS, Jaime Caruana, um capítulo do relatório, escrito pelos economistas Alejandro Jara, Ramon Moreno e Camilo Tovar, destaca dois pontos na resistência da América Latina à crise global.

Primeiro, o desenvolvimento do mercado de bônus local e a melhora da situação financeira das economias, que permitiram compensar parcialmente a freada na entrada de capitais com uma redução de saída de recursos. Houve repatriação de uma parte dos US$ 180 bilhões que estavam investidos no exterior por residentes da região. Segundo, as reservas internacionais excedem o limite adequado, portanto com mais capacidade para absorver os choques externos.