Título: Tamanho do governo tira PIB do Brasil, diz Rogoff
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2009, Brasil, p. A4

Pessimista em relação ao desempenho dos EUA nos próximos anos e cético quanto à capacidade da China de crescer a taxas tão robustas quanto no passado recente, o economista Kenneth Rogofff mostra otimismo ao falar sobre a economia brasileira. Para o ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil, ao lado de emergentes como a Índia, deve ter um crescimento superior ao da economia global na próxima década. Rogoff acredita que o Brasil pode voltar a crescer a um ritmo de 5% nos próximos anos, quando o mundo tiver saído do período "doloroso" em que se encontra.

Professor da Universidade de Harvard, Rogoff destaca o fato de o Brasil ter resistido bem a uma crise violentíssima. "Se você olha o que ocorreu com o Brasil, vê que houve apenas uma recessão normal, e está saindo dela normalmente. Isso é fantástico." Ao destacar os pontos positivos do país, Rogoff aponta o fortalecimento das instituições e a melhora gradual do ambiente de negócios.

A vasta extensão de terras aráveis e os recursos naturais abundantes também são trunfos importantes num cenário em que os países da Ásia - grandes consumidores de commodities - continuarão a crescer. "Há muitas oportunidades. Não me parece exagero dizer que o Brasil pode crescer acima da média global nos próximos anos", afirma ele. "Se vocês estivessem fazendo tudo certo, poderiam crescer até 10%."

O maior problema do país, segundo Rogoff, é o aumento do tamanho do governo, que ocorre há muitos anos sem ter como contrapartida uma melhora dos serviços oferecidos pelo Estado. No entanto, é algo que não representa o risco de uma crise imediata, diz ele. Trata-se de um problema com implicações mais significativas no longo prazo. A infraestrutura continua bastante deficiente, a despeito do forte aumento dos gastos públicos ao longo dos últimos anos.

Rogoff diz ainda que o Brasil pode receber um volume crescente de capitais externos. "À medida que a confiança aumentar, é mais provável que o fluxo de recursos externos volte a crescer" , afirma ele, acrescentando que os investidores tendem a buscar retornos maiores, como os oferecidos pelo Brasil, um país que enfrentou a crise e não entrou em colapso.

E há como prever o que deve ocorrer com o câmbio, depois da recente onda de valorização de moedas em relação ao dólar? "O câmbio é algo muito difícil de projetar, mas o real não parece estar num valor maluco no momento", responde Rogoff, embora reconheça que a taxa atual pode prejudicar alguns setores exportadores. Cauteloso, Rogoff também aponta fatores que podem levar a uma depreciação da taxa num cenário global extremamente volátil, como uma queda abruta dos preços de commodities ou uma forte desaceleração da China.

Rogoff considera possível que os juros no Brasil continuem em trajetória de queda nos próximos cinco anos. "Eu já li muitos "papers" e estudos sobre as causas dos juros altos no Brasil, mas nunca vi uma resposta clara a essa questão. Provavelmente isso está ligado ao legado de tremenda instabilidade financeira desconfiança do público no governo, ao histórico de calotes, à hiperinflação", diz o economista, que elogia a condução da política monetária pelo Banco Central (BC) brasileiro.

Ao falar dos EUA e da China, Rogoff exibe uma visão bem menos rósea. Ele é pessimista quanto às perspectivas de crescimento nos próximos anos dos EUA e, em certa medida, também da China. As duas principais locomotivas da economia global nos cinco anos que antecederam a eclosão da crise deverão crescer a um ritmo bem mais fraco que nos próximos cinco. Para ele, os EUA terão tempos difíceis pela frente. "Os preços de imóveis deverão ficar baixos por uma década, o desemprego ainda está em alta e o sistema financeiro não será o mesmo de antes da crise", diz ele, enumerando fatores que afetam as perspectivas para o consumo, por anos o grande motor do PIB americano. Além disso, com os crescentes déficits fiscais e agenda do presidente Barack Obama, com preocupações com o sistema de saúde, o ambiente e a desigualdade de renda, será necessário aumentar impostos em algum momento, para financiar um Estado maior. "São questões importantes para serem abordadas, mas isso vai resultar em mais impostos e mais regulação, o que deve levar a menos crescimento e a lucros menores das empresas."

Rogoff diz que a China, por sua vez, teria de reduzir o ritmo de crescimento mesmo sem a crise. "Há problemas como a poluição e o país estava ficando grande demais. Não é possível exportar tanto. Além disso, o consumidor americano não vai vai comprar tanto quanto no passado, e isso será um grande ajuste para a China", diz ele, que falou ontem a um grupo de jornalistas pela manhã. À tarde fez uma palestra a líderes políticos de oposição - o economista esteve em São Paulo a convite da Fundação Liberdade e Cidadania, ligada ao DEM.