Título: Com crise, Mhag reformula projeto no RN
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2009, Empresas, p. B7

A crise financeira e econômica mundial levou à revisão de prazos de implantação e escopo de todos os projetos de mineração de ferro no Brasil - de pequenas a mineradoras gigantes, como a Vale. O motivo é que a demanda dessa matéria-prima por parte das usinas de aço encolheu drasticamente desde outubro em todos os mercados, com destaque para Europa e Estados Unidos, e a retomada, aos níveis de antes, tão cedo se imagina possa ocorrer. Na Ásia, o mercado chinês é praticamente o único comprador.

A Mhag, mineradora em implantação no Rio Grande do Norte, que conta com a parceria da trading asiática, a Noble Group, que tem 30% do capital, teve de rever completamente seu projeto. Pio Sacchi, principal executivo da empresa, informou ao Valor que o escopo do empreendimento foi reformulado para três fases de implantação, cada uma com portes bem menos ambiciosos. "Agora, não é o momento de pensar e fazer coisas muito grandes".

Controlada pelo empresário paranaense, Edson Duda, por meio da Campina Participações, a Mhag assegura contar com quase 4 bilhões de toneladas de reservas indicadas de minério de ferro nos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará. O plano da empresa era atingir produção de 10 milhões de toneladas de minério ao ano numa primeira fase, no início da próxima década, e até 35 milhões, numa segunda etapa. Para isso, teria de fazer pesados investimentos em minas e logística (mineroduto e terminal portuário). Mas a liquidez financeira no mundo secou e a demanda por minério e aço também.

Segundo Sacchi, na reformulação do empreendimento, a primeira fase, já em andamento, prevê atingir uma produção de 2 milhões de toneladas no início de 2010. O investimento orçado é de US$ 60 milhões e a mineradora espera ter financiamento de pelo menos 50% do BNDES.

A empresa depende principalmente de licenças ambientais para concluir esta fase neste ano. estão previstos 600 empregos diretos nas obras. Na operação, 510 diretor e 1,2 mil indiretos.

Essa mina, chamada Bonito, em Jucurutu, na região do Seridó, até agora teve uma produção tímida - 265 mil toneladas em 2007 e 74 mil no ano passado. Os embarques com destino à China foram feitos pelo porto de Suape, próximo de Recife (PE), onde o material chegou via caminhões e trem. O plano era passar de 50 mil para 200 mil toneladas por mês em 2008, mas isso não se concretizou. O executivo diz que as operações da mina estão paradas há mais de um ano.

Atualmente, informa Sacchi, a empresa negocia com um grupo chinês a entrada na segunda fase do empreendimento. "Até setembro ou outubro já teremos definido o parceiro, que é um grupo siderúrgico de porte médio", afirmou. O sócio ficará com toda a produção prevista nesta etapa e arcaria com o aporte de US$ 555 milhões de investimentos necessários. Essa fase do projeto está planejada para produzir 4 milhões de toneladas por ano e estaria concluída no fim de 2011.

Além de equipamentos de extração e beneficiamento na mina, está prevista a construção de um mineroduto de 120 km de extensão até a costa do Atlântico no Estado e um terminal portuário apto a receber navios tipo Capesize, . Esse navios podem transporta acima de 100 mil toneladas de produto. "A implantação desse porto será um impulsionador para toda a economia da região do Rio Grande do Norte e colocará a Mhag numa situação privilegiada em termos logísticos", afirmou Sacchi.

"Com essa distância da costa do mar, o projeto fica bem competitivo, tanto no custo de implantação do mineroduto quanto o de transporte do minério", afirmou Sacchi. Segundo ele, o corte nos preços do minério, de 33% - acertado entre a australiana Rio Tinto e siderúrgicas japonesas e coreanas, por essas vantagens, não irão inviabilizar o empreendimento. A expectativa fica para a terceira fase de expansão.

Prevista para depois de 2013, essa etapa, com porte de 6 milhões de toneladas, dependerá fundamentalmente da retomada do mercado global de minério de ferro e aço. O investimento orçado, de US$ 600 milhões, seria viabilizado por uma oferta pública de ações (OPA) da empresa ou por uma colocação privada de recursos.

No ano passado, a Mhag sonhava com uma captação via OPA de US$ 1 bilhão e contava receber mais US$ 100 milhões de injeção de capital do sócio Noble Group.