Título: Estrangeiro amplia fatia no seguro
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2009, Finanças, p. C1

A presença de seguradoras estrangeiras no Brasil se intensificou nos últimos meses. Com a necessidade de recursos para se adequarem às novas regras de capital do setor de seguros e financiar projetos de expansão, muitas companhias brasileiras foram buscar sócios no exterior. Um dos últimos casos foi a aquisição de 50% da Mongeral pela holandesa Aegon, que acaba de ser aprovada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). Também recente foi a compra de 50% da Marítima pela japonesa Yasuda, realizada em maio. Houve ainda a venda da Indiana Seguros para a americana Liberty e da Minas Brasil para o grupo suíço Zurich.

Em um ano, a participação das seguradoras estrangeiras independentes (não levando em conta as empresas ligadas a bancos) no mercado brasileiro cresceu de 26% para 29% dos prêmios emitidos, segundo levantamento da consultoria Siscorp com base nos dados mais recentes divulgados pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), que vão de janeiro a abril deste ano. As companhias de capital estrangeiro movimentaram R$ 6,5 bilhões em prêmios no período, expansão de 20%.

A Mongeral, seguradora focada em vida e previdência, vinha buscando um sócio há mais de um ano e meio. O grupo Aegon, que é forte na Holanda no ramo vida, mas tem operações grandes nos Estados Unidos, buscava uma forma de crescer no exterior e, com isso, diminuir o peso dos negócios do mercado americano nas receitas.

Segundo Helder Molina, presidente da Mongeral, o grupo holandês terá assento no conselho de administração, mas não vai participar da gestão. A marca Aegon foi incorporada ao nome da brasileira, que agora passa a se chamar Mongeral Aegon. Os executivos do grupo começaram na semana passada uma visita a todos os escritórios da Mongeral pelo país, comunicando a operação aos funcionários e corretores. Passaram por São Paulo, Rio, Curitiba e Porto Alegre, de onde Molina falou com o Valor.

Inicialmente foi feito um aporte de R$ 30 milhões na Mongeral. Segundo Molina, a projeção é crescer ao menos 35% em 2009 e abrir novas filiais. Somente este ano, foram abertas 13 unidades. A meta é ter 100 pontos em cinco anos (atualmente são 55). O objetivo da Mongeral é ser uma das cinco maiores no segmento de vida e previdência. Para isso, o desafio é aumentar a cultura do seguro de vida individual no país. Muito comum na Europa e EUA, no Brasil essas apólices ainda não se desenvolveram. Aqui é mais comum o vida em grupo, vendido para empresas e dado como benefício aos funcionários.

"A vinda da Aegon vai nos permitir ficar mais fortes financeiramente e ter acesso a produtos e tecnologias do grupo lá fora", afirma Molina. O contrato de aquisição dos 50% foi assinado em outubro de 2008, em um dos piores momentos da crise. A própria Aegon foi afetada e precisou de ajuda do governo holandês para se recapitalizar, recebendo ¿ 3 bilhões. Mesmo assim, resolveu manter o contrato com a Mongeral.

Mesmo com a crise provocando recessão global, o mercado de seguros tende a ser um dos menos afetados. As 80 maiores seguradoras do mundo se reuniram no Japão no final de maio para discutir a crise na assembleia anual da Associação de Genebra - organização global criada para avaliar o mercado segurador e ressegurador; o Brasil é representado pela SulAmérica. Uma pesquisa feita no encontro, e divulgada ontem, constatou que a maioria dos executivos (75%) espera um impacto "suave" da crise no setor de seguros. A razão é que as companhias e as pessoas vão ter que buscar cada vez mais proteção dos seguros para lidar com o mundo mais "incerto". Quase 70% dos entrevistados avaliam que a economia global vai se recuperar a partir de meados do ano que vem.

Nesse cenário, o Brasil (e os outros três países que foram a sigla Bric - Índia, China e Rússia) viraram os queridinhos das seguradoras. Segundo Masatoshi Sato, CEO mundial da Sompo Japan Insurance, seguradora que controla a Yasuda (que comprou parte da Marítima), o grupo japonês elegeu esses países para crescer no exterior e aumentar as receitas internacionais. No Brasil, ele diz que chamou atenção as altas taxas de crescimento do mercado de seguros.