Título: Taxa de investimento cai para 16% do PIB e pode afetar oferta futura de bens
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2009, Brasil, p. A4
A formação bruta de capital fixo, indicador dos investimentos em máquinas, equipamentos e na construção civil, encerrou o primeiro trimestre com o pior resultado da série histórica do IBGE iniciada em 1996. O indicador registrou queda de 12,6% sobre o quarto trimestre do ano passado, com ajuste sazonal, superando a retração verificada nos três últimos meses de 2008, de 9,3%. Para economistas, a recessão técnica será mais longa para esse componente do PIB, que apenas no quarto trimestre deve voltar a registrar crescimento sobre o trimestre imediatamente anterior. Para o ano, as projeções de queda variam de 5% a 9%. A retração do investimento produtivo é apontada como fator limitante do PIB potencial (nível de crescimento que não provoca aceleração da inflação) em 2009.
"O PIB potencial até o terceiro trimestre de 2008 estava em torno de 5% ao ano. Com a queda do investimento nos dois trimestres, ele cai para 4%. Não compromete totalmente, mas não se pode dizer que o impacto é nulo", avaliou o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. No intervalo de setembro a março, calculou, a formação bruta de capital fixo registrou uma queda de 20,8%. A taxa de investimento baixou para 16,6% do PIB, ante 19% no quarto trimestre de 2008.
Entre as causas para a queda estão a retração nas exportações, na produção e no nível de confiança do empresariado. Borges faz uma comparação entre a evolução trimestral do Índice de Confiança da Indústria (ICI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a variação do PIB sempre em comparação com o mesmo intervalo do ano anterior e notou uma correlação entre as séries de 85%. "Em 2008 as duas linhas coincidem em todos os pontos, o que pode ser encarado como positivo, pois o índice de confiança voltou a crescer a partir do primeiro trimestre", afirmou.
Borges projeta para o ano queda na formação bruta de capital fixo de 5% a 6%, com a taxa de investimento situando-se em 16% do PIB e queda de 14% nas exportações. "As indústrias precisam primeiro ocupar a capacidade ociosa que ainda é elevada, para depois voltarem a investir", disse, apostando em uma elevação do nível de utilização da capacidade instalada das indústrias da média atual de 79% para 82% só no quarto trimestre.
A economista da Tendências Consultoria, Marcela Prada, que projeta para o ano queda de 9% na formação bruta de capital fixo e variação zero ou queda de até 0,3% no PIB, ainda vê incertezas sobre o cenário dos investimentos por conta da indústria. "Os dados antecedentes da indústria têm surpreendido para baixo, como a queda no resultado da construção e da produção industrial em abril, o enfraquecimento nas vendas de veículos em maio e os dados de consumo de energia", observou. Marcela afirmou que previa um resultado mais fraco no primeiro trimestre, mas também se surpreendeu com a recuperação muito lenta da indústria no segundo trimestre. Ela prevê para o segundo trimestre um aumento do PIB de 0,9%, puxado pelas famílias e pelo governo. "O investimento continuará com um resultado ruim, devendo melhorar só em 2010."
O sócio da RC Consultores, Fábio Silveira, reviu a sua projeção de PIB em 0,2 ponto percentual, para um crescimento de 0,5%, também sustentada pelo crescimento do consumo do governo e das famílias - esse último favorecido pela recuperação do crédito. Para a formação bruta de capital fixo, ele projeta queda de 9% no ano, graças a uma recuperação dos investimentos no último trimestre, permitindo que a taxa de investimento no ano chegue a 17,7%, mais próximo dos 19% alcançados no fim de 2008. "No segundo e no terceiro trimestres, o que vai impulsionar o crescimento do PIB na margem será o consumo das famílias e do governo. No quarto trimestre, haverá uma recuperação das exportações e uma elevação do uso da capacidade instalada nas indústrias. Esses dois fatores impulsionarão a alta dos investimentos já no fim deste ano", disse.
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, não revisou suas projeções em decorrência do PIB melhor que o esperado no primeiro trimestre. Ele prevê para a formação bruta de capital fixo uma queda de 8,1% no ano (em 2008 houve expansão de 13,8%). "Nos últimos dois anos a expansão foi superior a 10%. É normal haver uma queda intensa em momentos de crise e a tendência é vermos números negativos durante todo o ano, com retomada do investimento pelas indústrias a partir de 2010", avaliou. Vale projeta crescimento zero do PIB para este ano.
O economista-chefe da Convenção Corretora, Fernando Montero, considerou a queda de 14% no investimento e de 0,7% nos estoques (comparado ao início de 2008) como os dois principais fatores para a retração de 1,8% no PIB. Para ele, a queda menor da economia no primeiro trimestre contribui para um carregamento estatístico menor da recessão para o PIB de 2010. Ele considerou ainda que a queda da formação bruta de capital fixo não exerce uma influência tão significativa sobre o PIB potencial.