Título: Medidas anticrise funcionaram, avalia governo
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2009, Brasil, p. A4

Atingir um crescimento de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009 - essa é a previsão do governo - "não será tarefa fácil, mas é um desafio possível de ser alcançado", disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao comentar o desempenho da atividade no primeiro trimestre. A economia brasileira teve retração de 0,8% na comparação com o último trimestre de 2008 e de 1,8% em comparação ao início de 2008. O resultado confirma recessão técnica da economia no país.

Para Paulo Bernardo, ministro do Planejamento, o governo tem "muita chance de estar certo" quando prevê crescimento de 1% do PIB em 2009. A manutenção dos investimentos, a política social do governo e a diminuição de impostos "deram resultado", diz. Bernardo e Mantega se reuniram ontem durante uma hora com o presidente Lula para discutir o PIB.

Na avaliação de Bernardo, o resultado é "muito menos negativo" do que as previsões feitas pelo mercado financeiro. A expectativa do governo, segundo Bernardo, é que o resultado do PIB do segundo trimestre deste ano seja positivo em relação ao primeiro trimestre, mas não positivo em relação ao primeiro trimestre de 2008. "O resultado é importante, porque mostra que a política monetária deu resultado", diz o ministro.

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ter ficado "triste" com o resultado do PIB no primeiro trimestre. Para o presidente, a queda de 0,8% foi maior do que o governo gostaria, mas menor do que o previsto pelo mercado financeiro por três meses. Ao participar de cerimônia com prefeitos e governadores, no Palácio do Buriti, em Brasília, Lula disse que continua a acreditar que o Brasil foi "o último país a entrar na crise e será o primeiro a sair".

Para o ministro Mantega, as políticas monetária e fiscal têm de continuar oferecendo estímulos. Ele preferiu evitar recomendações ao Banco Central (BC) sobre redução de juros, mas defendeu medidas para aumentar o crédito e reduzir o custo financeiro. A redução dos juros e dos spreads - diferenças entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o que é cobrado dos tomadores de crédito - praticados pelo mercado financeiro ainda é insuficiente, na avaliação de Mantega. Do ponto de vista fiscal, revelou que ainda serão realizadas ações de governo para estimular setores em dificuldades, mas não deu detalhes. "O que falta é mais política monetária e mais política fiscal. A ação do governo tem de continuar", avisou.

Na avaliação do ministro, as medidas de redução do custo financeiro significam ação mais forte dos bancos públicos na redução dos spreads. Mantega informou que Lula já assinou a medida provisória dos fundos garantidores de crédito. Dessa maneira, o Tesouro vai poder realizar aporte de até R$ 4 bilhões para BNDES e Banco do Brasil, valor que poderá garantir créditos de até R$ 40 bilhões para micro e pequenas empresas.

Para Mantega, o resultado do PIB no primeiro trimestre foi causado pela forte queda do investimento da indústria, mas, por outro lado, o consumo das famílias e do governo impediu uma queda maior. "A política anticíclica já começou a dar resultados", comentou. Na visão do ministro, "já há um descolamento da crise", porque são nítidos os sinais positivos na cadeia automotiva, na construção civil e em gás e energia. A perspectiva de Mantega é de um segundo trimestre com crescimento modesto e o ano de 2009 vai encerrar com um "resultado satisfatório, em aquecimento", e baseado no vigor do mercado interno.

O ministro do Planejamento afirmou que ao fim do mandato do presidente Lula a expectativa é que a taxa de juros real seja de 4% . Segundo o ministro, o governo pretende criar condições para que o próximo presidente consiga reduzir a taxa de juros. Bernardo considerou que 5% de taxa real de juros é "um avanço" em relação às taxas "absurdamente altas" que o país registrou no passado, mas que dentro da cenário econômico internacional é alta.