Título: Brasil doa mais US$ 15 mi
Autor: Alves, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 24/01/2010, Mundo, p. 20

Anúncio foi feito por Celso Amorim durante visita a Porto Príncipe. Chanceler nega preocupação em manter liderança na região

Militar brasileiro conversa com estudante haitiano: ¿controle da situação¿

Porto Príncipe ¿ Com mais US$ 15 milhões, o Brasil vai dobrar o volume de dinheiro para ajudar na reconstrução do Haiti. O anúncio partiu do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em visita a Porto Príncipe, capital do país caribenho arrasado por um terremoto no último dia 12. O governo brasileiro já havia aprovado um auxílio financeiro de US$ 15 milhões, poucos dias após a tragédia. Desse montante, US$ 5 milhões já estão com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Amorim deu a informação ao primeiro-ministro do Haiti, Jean-Max Bellerive, logo após desembarcar em Porto Príncipe em voo da Força Aérea Brasileira (FAB). O encontro dos ministros foi fechado, na sede da polícia local, perto do único aeroporto da cidade. Em entrevista aos jornalistas brasileiros, Amorim explicou que a ajuda adicional ¿está em processo¿ e deve ser liberada ¿muito rapidamente¿.

Na conversa com Bellerivee, Amorim disse que ofereceu ainda ajuda para recompor o governo local. ¿Ofereci, entre outras possibilidades, a formação de quadros administrativos também, porque uma grande parte dos quadros do Haiti desapareceu, morreu¿, explicou. ¿É muito importante que haja a percepção de que o governo haitiano está com o controle da situação¿, completou.

Perguntado sobre a preocupação do Brasil em manter a liderança na região, Amorim disse que o Brasil ¿não está preocupado¿ com a questão. ¿Ao contrário do que a mídia pode pensar, o Brasil não está preocupado com a liderança (1)regional, mas sim em ajudar o país, com respeito aos mandatos internacionais e com respeito ao governo do Haiti¿, ressaltou o ministro brasileiro.

Na sexta-feira, o comandante das forças da Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (Minustah), general Floriano Peixoto Vieira Neto, fez questão de marcar posição. Ele deixou claro que o Brasil está à frente do processo de ajuda humanitária ao Haiti. ¿É bom que se destaque que, no controle dessa situação caótica, encontra-se aqui uma representação brasileira, o comando das forças é de um oficial brasileiro, desde 2004 o force comander (comandante da força) é um general brasileiro. E aqui, tem, sob o seu comando, o maior efetivo das tropas, que é um contingente brasileiro¿, afirmou o oficial na ocasião.

Para Amorim, ¿é importante que o povo do Haiti sinta que seu governo, que ele elegeu, é o governo que está conduzindo (o processo de reconstrução), naturalmente com o apoio da comunidade internacional. (O primeiro-ministro) está muito bem informado, sabe de toda a situação¿, garantiu. À tarde, o chanceler brasileiro visitou a base militar do Brasil em Porto Príncipe.

O ministro partiria ontem mesmo de Porto Príncipe para Montreal (Canadá), onde participará de reunião preparatória à conferência para reconstrução do Haiti, marcada para amanhã. Também participarão da reunião a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, e o chefe da diplomacia francesa, Bernard Kouchner. A chefe da diplomacia canadense, Lawrence Cannon, presidirá o encontro.

1 - Reforço Um novo contingente de tropas dos Estados Unidos chegou ontem ao Haiti para participar das operações de socorro. O reforço foi dado pelo 24º corpo expedicionário dos Fuzileiros Navais e por uma unidade de intervenção anfíbia baseada em Nassau, nas Bahamas. Espera-se que o número total de militares americanos no país chegue a 20 mil hoje, informou o Comando Sul.

É importante que o povo do Haiti sinta que seu governo, que ele elegeu, é o governo que está conduzindo (o processo de reconstrução)¿

Celso Amorim, ministro brasileiro das Relações Exteriores

Ajuda enviada

1.266 militares brasileiros estão no Haiti, com possibilidade de o país enviar mais 1,3 mil

US$ 18,8 milhões já foram doados ao país

Duas equipes formadas por 51 bombeiros atuam em Porto Príncipe, sendo uma do DF, com 21 homens

Serão destinadas 10 Unidades de Pronto Atendimento e 50 ambulâncias do Serviço de Atendimento Médico de Urgência

600 toneladas de alimentos devem ser enviadas aos sobreviventes

11 toneladas de água engarrafada foram distribuídas entre a população

20 kits com 258 mil unidades de medicamentos, suficientes para atender 10 mil pessoas durante três meses, foram doados pelo Ministério da Saúde

46 profissionais da área da saúde atuam no hospital de campanha montado pela Aeronáutica na capital

Risco de novos tremores Breno Fortes/CB/D.A Press Prédio de Porto Príncipe destruído no terremoto do dia 12: especialistas defendem normas mais rígidas para futuras construções no Haiti

Um terremoto tão ou mais violento que o que devastou Porto Príncipe no dia 12 pode voltar a ocorrer no Haiti em um curto intervalo de tempo. É o que dizem especialistas. ¿Os tremores anteriores no mundo e a história sísmica do Haiti indicam que terremotos de alta magnitude podem se repetir no mesmo lugar em um curto espaço de tempo¿, explicou David Schwartz, um especialista do Instituto Sismológico americano (USGS). Ele lembrou o caso da Turquia em 1999, quando dois terremotos de magnitude superior a 7 foram registrados em um intervalo de três meses.

Para Eric Calais, sismólogo francês da Universidade de Purdue, no estado de Indiana (norte dos EUA), a falha de Enriquillo ainda pode provocar um tremor de até 7,2 no Haiti. ¿Os tremores nesta região tendem a se repetir em sequência¿, afirmou, lembrando que nos três últimos séculos, terremotos de magnitude comparável ou superior ao do dia 12 abalaram o Haiti pelo menos quatro vezes, entre eles os de 1751 e 1770, que destruíram completamente Porto Príncipe. "Como a região tem um passado sísmico, é preciso reconstruir Porto Príncipe segundo normas sísmicas rígidas. O custo será mais elevado, mas é tecnicamente factível", afirmou Eric Calais.

De acordo com o Instituto Sismológico americano (USGS), o Haiti tem 25% de probabilidade de um ou mais tremores de magnitude 6 acontecerem nas próximas semanas. Certo mesmo é que o país continuará por várias semanas exposto a um risco importante de fortes tremores secundários, fenômeno normal depois de um terremoto e que vai diminuir com o tempo.

Por isso, dizem os especialistas, uma avaliação exaustiva do risco sísmico no Haiti e nas demais nações do Caribe permitirá melhorar as normas de construção e edificar prédios resistentes aos terremotos, explicou o USGS. Mas isso requer estudos aprofundados das falhas e do solo, o que costuma demorar vários anos.

OUTROS TERREMOTOS Bolívia e Costa Rica enfrentaram ontem vários terremotos de intensidade moderada, de acordo com o Instituto Sismológico americano (USGS). Nenhum dos dois países, porém, informou sobre a existência de vítimas ou a ocorrência de danos materiais.Na Bolívia, foram dois tremores. Um, de 5,4 às 5h23 (7h23 de Brasília) a 75 quilômetros a noroeste de Santa Cruz, uma das maiores cidades do país. O epicentro foi a 10 quilômetros de profundidade, segundo o USGS. Dezessete minutos depois, outro tremor de 5,2 aconteceu a 140 quilômetros também a noroeste de Santa Cruz. Na Costa Rica, o terremoto foi de magnitude 5,2 e ocorreu às 3h08 (7h08 de Brasília) a 30 quilômetros a sudeste da cidade de Golfito, a uma profundidade de 29 quilômetros, de acordo com o USGS. Pelos padrões do Instituto, um tremor de magnitude 6 é considerado forte. O terremoto de 12 de janeiro no Haiti, que deixou mais de 100 mil mortos, foi de magnitude 7.