Título: Oxford precisa de ajuda externa
Autor: John Kay
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2005, Opinião, p. A11

O desnível entre as melhores universidades americanas e as melhores universidades européias vem se ampliando. Antes da Segunda Guerra Mundial, três quartos dos agraciados com um Prêmio Nobel em ciência eram europeus; hoje, essa proporção tem como destino os EUA. Muitas das estrelas acadêmicas européias estão nos EUA. A qualidade do ensino é mais difícil de avaliar, mas onde se estabelecem os melhores acadêmicos, o ensino tende a ser melhor. Oxford é a "marca" mais respeitada no campo educacional. Mas aqueles que conhecem e amam essa universidade vêm se sentindo frustrados não apenas com o descompasso entre sua reputação histórica e a realidade atual, mas também com a incapacidade da instituição de enfrentar essas preocupações. Isso, pelo menos, pode estar mudando. É importante, para a economia européia, incentivar essas iniciativas. A própria Oxford tem um sistema colegiado complexo. Uma anedota fala do turista que, em meio aos prédios históricos, indaga: "Mas, onde fica a universidade?". Boa parte das aulas são ministradas em instituições autônomas, como em Christ Church e no Balliol College. Em ciências exatas, os departamentos provêm aulas e laboratórios. Em ciências humanas, os mestre ensinam como querem e os alunos freqüentam as aulas quando querem, freqüentemente preferindo não fazê-lo. A maioria dos estudantes e muitos professores sentem-se leais em relação a suas faculdades, e não à universidade. Para observadores externos, isso parece ser a fonte dos problemas de governança. Mas o verdadeiro problema tem sido a administração inepta das instituições centrais da universidade - um atoleiro de comissões com responsabilidades mal definidas e parcialmente superpostas. Se os turistas perguntassem: "Onde fica a universidade?", eles seriam, hoje, encaminhados ao feio edifício na Praça Wellington onde muitas das comissões se reúnem. Raramente há clareza sobre quem é responsável por uma decisão, ou mesmo se uma decisão foi tomada. A elaboração de um orçamento ou o planejamento de recursos, abordagem básica em outras instituições, não acontece em Oxford. Em conseqüência, as pessoas mais capazes retiraram-se para as faculdades e departamentos. Toda organização profissional sofre porque suas estrelas não querem comandar o espetáculo. Eles preferem criticar, enquanto fazem "seu próprio trabalho". Em Oxford, isso atingiu dimensões absurdas. Cinco minutos em qualquer faculdade ou departamento revelam acirrada hostilidade "à universidade", cujos interesses são vistos como distintos dos de suas faculdades e departamentos - e eles têm sido diferentes, como um corpo em guerra com seu próprios braços e pernas. No ano passado, um novo vice-reitor chegou a Oxford - John Hood, um neozelandês, o primeiro quadro externo a ocupar o posto. Ele pretende pôr fim a essa dicotomia entregando o controle sobre "a universidade" a uma colegiado formado pelos responsáveis pelas faculdades e departamentos. Alguns resistentes, interpretando erroneamente as suas intenções, vêm esse plano como um ataque à autonomia das faculdades. De certa forma, trata-se efetivamente disso: no mesmo sentido em que os remadores no esporte pelo qual Oxford é famosa abrem mão de sua autonomia porque é melhor para todos remarem na mesma direção.

Novo vice-reitor quer a supervisão administrativa e financeira nas mãos de curadores independentes, no padrão norte-americano.

Os planos também exigem a definição de linhas de responsabilidade e prestação de contas. Se isso não parece tão radical, relembro que quando indaguei -por ocasião de uma rodada anterior de "reformas" - qual entidade seria responsável por decisões envolvendo uma gama de tópicos específicos, a resposta, em quase todos os casos, foi de que isso ficaria claro à medida que as comissões progredissem em seu trabalho. A proposta mais radical do novo vice-reitor é a de que a supervisão administrativa e financeira deveria ser delegada a curadores independentes, segundo padrões comuns nas principais universidades americanas. A lista de nomes de diplomados por Oxford constitui um elenco de não-executivos que qualquer empresa ambicionaria ter. Não-executivos não tolerariam a frouxa disciplina financeira de Oxford. Prestação de contas a um colegiado externo é a resposta à convicção de que "é assim que fazemos as coisas em Oxford" justifica qualquer prática. E minha experiência é a de que agentes externos exibem um comprometimento mais relevante para com a excelência acadêmica do que elementos da própria instituição que buscam consenso interno, omissos diante das escolhas e juízos demandados por um controle de qualidade. O ex-alunos de Oxford hoje no setor privado e no governo deveriam deixar claro não apenas que apóiam a mudança contemplada pelo vice-reitor, mas que a manutenção de seu apoio assim o exige. Tony Blair, hoje primeiro-ministro e egresso de Oxford, deu maior liberdade às universidades ao permitir que cobrem taxas de seus alunos. Se forem adotadas reformas institucionais, poderá haver um brilho de esperança em que Harvard e Stanford novamente terão um competidor a temer.