Título: Disputa no setor de máquinas
Autor: Fernando Lopes
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2005, Agronegócios, p. B10

A queda nas vendas e o início de uma série de demissões no setor de máquinas e implementos agrícolas está provocando reações em toda a cadeia produtiva. Após as demissões de 1,24 mil pessoas das empresas de colheitadeiras (CNH, AGCO e John Deere), as indústrias do setor negociam novos cortes, redução de jornada de trabalho e criação de banco de horas com os sindicatos dos metalúrgicos de cada região. Segundo dados CUT e da Força Sindical, os cortes no setor de máquinas e implementos já chega a 4,4 mil postos (ou 10% do total empregado pelo setor). Carlos Alberto Grana, presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, disse que empresas como Marchesan Tatu, Valtra e CNH já negociam reestruturação. Ele observou que a produção do setor de máquinas cresceu 147% nos últimos seis anos, com a liberação de R$ 10 bilhões do Moderfrota, enquanto o número de postos cresceu 50%. "O setor foi amplamente favorecido e agora, no início de sua crise, precisa adotar uma política de responsabilidade social", disse Grana. A entidade e a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, da Força Sindical promoverão no dia 17 um dia nacional de luta, com a meta de paralisar 14 indústrias do setor em cinco Estados. As entidades também pretendem abrir discussão sobre o assunto com o governo federal. As indústrias também querem apoio do governo federal para a liberação de novos recursos e o Ministério da Agricultura já discute com a Fazenda o refinanciamento das dívidas do Moderfrota que vencem neste ano, estimadas pelo setor em R$ 2,6 bilhões. O levantamento mais recente do BNDES, aponta queda de 31% nos desembolsos do Moderfrota em janeiro, comparado a igual mês de 2004, totalizando R$ 304,7 milhões. Cláudio Bernardo Morais, superintendente de operações indiretas do BNDES, disse que a expectativa do banco é que as liberações não atinjam o valor aplicado na safra 2003/04, quando foram aplicados R$ 4,6 bilhões. Em 2004/05, o banco aprovou, no total, R$ 2,124 bilhões. Persio Pastre, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), observou que as demissões têm se restringido à área de colheitadeiras, cujas vendas caíram 63,3% no mercado interno e 23,5% no exterior neste ano. Ele acredita que a próxima área a sofrer redução será a de tratores. Em implementos agrícolas, formada por 400 empresas, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), informou que houve em torno de 2 mil cortes no fim de 2004 e haverá demissões pulverizadas neste ano.