Título: Dívida pública interna indexada ao dólar pode zerar até o final de abril
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2005, Finanças, p. C1

Se seguirem no ritmo atual, os leilões que o Banco Central realiza no mercado futuro de dólar vão eliminar, antes do fim do abril, a dívida pública interna vinculada à taxa de câmbio. Pelas estimativas do mercado, a participação da dívida interna indexada ao dólar no débito caiu de 8% para menos de 5%, após as seis ofertas públicas dos chamados "swaps" cambiais reversos (em que o BC assume posição ativa em dólar e passiva em juros) em fevereiro e março. O ritmo de enxugamento da dívida cambial interna é tão forte que, hoje, os analistas já não têm muitas dúvidas se ela tende a desaparecer - a questão é se o BC pretende prosseguir com os leilões quando essa exposição for zerada. Desde fevereiro, a autoridade negociou US$ 8,7 bilhões em "swaps" reversos, que anulam 41% do débito vinculado ao câmbio, que em janeiro era de US$ 21,293 bilhões. Mesmo com a colocação ontem de um volume menor de "swaps" (US$ 1,5 bilhão, ante US$ 2 bilhões nas três semanas anteriores), o resíduo de dívida cambial tende a ser rapidamente consumido.

"É bem provável que o BC continue a realizar leilões mesmo depois de acabar a dívida", diz o economista Roberto Padovani, da Tendências Consultoria. Neste caso, a venda de "swaps" teria o efeito de reduzir a exposição ao dólar do Brasil representada pela dívida externa, que em termos brutos (sem descontar as reservas) somava US$ 122,895 bilhões em janeiro. Para Padovani, a continuidade ou não dos leilões de swap reverso não é apenas uma decisão ligada ao perfil da dívida - o pano de fundo da atuação do BC é o excesso de liquidez no mercado de moeda estrangeira, que não deverá se reverter enquanto houver o grande diferencial entre as taxas de juros interna e externa, e não mudar o humor externo. O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, considera pouco provável que - caso se confirme o cenário de extinção do débito interno vinculado ao dólar - o BC prossiga com os leilões de "swap" cambial. "Teríamos o mercado e o BC compradores de dólares, o que poderia aumentar a volatilidade", afirma. Salomon lembra que, por seu perfil, não haveria grande vantagem em reduzir a exposição ao dólar representada pela dívida externa. Na dívida interna, o grosso dos vencimentos é no curto prazo, por isso os movimentos de desvalorização da taxa de câmbio podem ter efeitos reais no fluxo de pagamentos; isso não ocorre necessariamente na externa, cujo perfil de vencimentos é bem mais longo. A eliminação do débito interno em dólar é bem vista pelos analistas. O único possível argumento em favor da manutenção dos papéis cambiais seria diversificar o risco. Como a exposição ao câmbio está sendo substituída por taxa Selic, a dívida pública fica mais suscetível a altas de juros básicos. Em tese, o dólar tem uma dinâmica contrária: quando os juros sobem, a tendência é de depreciação. Mas flutuações dos juros tendem a ser menores que do câmbio, por isso aquele indexador é preferível. A dívida cambial começou a se expandir fortemente no período do câmbio fixo, durante o Plano Real, e disparou após a flutuação da moeda, em 1999. Em 2002, na crise das eleições presidenciais, os papéis cambiais chegaram a representar 40,67% do débito interno em títulos públicos.